A manifestação de descrédito do mercado de câmbio na nova medida do governo tentando conter a apreciação do real, elevando o prazo de incidência do IOF sobre empréstimos externos de 360 dias para 720 dias, foi dura, objetiva e para não…
A manifestação de descrédito do mercado de câmbio na nova medida do governo tentando conter a apreciação do real, elevando o prazo de incidência do IOF sobre empréstimos externos de 360 dias para 720 dias, foi dura, objetiva e para não deixar dúvidas. O preço do dólar, simplesmente, “derreteu” literalmente.
A medida do dia 5 estendendo a aplicabilidade do IOF de 6% sobre empréstimos externos de 360 dias, determinada normativamente no último dia 28 de março, para 720 dias, é absolutamente inócua. Pelo simples fato do especulador com arbitragens, não estender o prazo além de um ano, para não ficar exposto a riscos, algo sempre indesejável e que pode se acentuar num prazo mais longo, já que o cenário internacional ainda tem mais incertezas do que certezas, e mesmo o Brasil enfrenta um grande desafio de colocação da “casa em ordem”, que notoriamente não é tarefa fácil.
A reação do mercado configura um sentimento de “absoluto alívio”, pois sempre espera que mudanças ocorram nas posições “vendidas” dos bancos, o que provocaria repercussões múltiplas, no crédito, no comportamento do preço da moeda, nos posicionamentos no mercado de derivativos, etc., ou ainda, medidas afetando o mercado de derivativos, que na realidade é quem comanda a formação do preço da moeda americana no país e não o fluxo cambial, visto que este tem todo o seu excedente absorvido pelo BC com seus leilões. E, naturalmente, medidas de política monetária que contenham a expansão do crédito, como o aumento dos depósitos compulsórios dos bancos, afetando a liquidez e com isto tornando menos acessível o crédito ao consumo.
É uma ledo engano crer-se que é o fluxo cambial que aprecia o real. Esta é a causa que se propaga, por ser um pressuposto lógico e que todos entendem fácil e acreditam, mas na realidade é o mercado de derivativos que determina o preço, nada tem a ver com fluxo cambial.
Se o BC compra todo o excedente ou mais, não há sobras no mercado para apreciar o real, a própria lei da oferta e procura neutraliza esta hipótese, basta analisar os números do fluxo cambial e da participação do BC no mercado com seus leilões de compra.
As medidas do IOF de 6%, tanto a de 360 dias como a da sua extensão para 720 dias, prioritariamente são arrecadatórias, visando reforçar o caixa do governo, travestidas de medidas focando o câmbio, pois em termos práticos, visam arrecadar se houver o ingresso ou economizar o custo de carregamento das reservas cambiais se não ingressarem, pois crescerão menos. Objetivamente, ou arrecada ou minimiza o dispêndio. Na formação do preço da moeda efeito nulo.
Portanto, o fluxo poderá até cair, mas como não é ele o fator determinante da apreciação do real, “meia verdade” que o governo anterior propagava e este mantém, a taxa cambial não se recuperará, simplesmente o BC comprará menos com seus leilões de compra diários.
Assim, continuamos considerando que as medidas do governo não têm o foco de alterar a trajetória do preço da moeda americana, pois se assim fosse o governo estaria fustigando com suas normas todo o conjunto de operações derivativas, e, em especial a redução brusca das posições “vendidas” dos bancos no mercado a vista.
Enquanto não fizer isto, nada acontecerá de diferente no câmbio. Predomina a impressão de que as autoridades monetárias estão sendo complacentes com as verdadeiras causas da apreciação do real, e deixa em situação de conforto os especuladores deste segmento, que só têm foco no lucro e não têm quaisquer comprometimentos com os objetivos do governo.
Na mesma linha arrecadatória elevou ontem o IOF nas operações de crédito para pessoas físicas de 1,5% para 3,0% a.a., que tende ao fracasso. O consumidor brasileiro não examina os custos, mas sim o “tamanho” da prestação, e, se esta encaixar-se no seu orçamento segue comprando. O governo sabe disto, como sabe também que a elevação da SELIC pouca ou nenhuma contração provoca na demanda das pessoas físicas, já que as taxas de juros já são tão mais elevadas do que a SELIC que os ajustes passam imperceptíveis.
Diminuir liquidez combinado com encurtamento de prazo é a receita mais eficaz, em concomitância com o “fechamento” dos nichos que podem gerar liquidez para o mercado financeiro, viabilizando a superação dos efeitos das elevações dos depósitos compulsórios.
Provavelmente, pelos números mais recentes divulgados pela CNI, o fator de maior impacto de contenção do consumo desenfreado esteja dando seus primeiros sinais, ou seja, a incerteza quanto à manutenção do emprego. Este ano, até pelo crescimento bem menor da economia em relação ao do ano passado, o cenário do emprego perde impulso, e a insegurança advinda deste fato é um antídoto fortíssimo ao consumo das pessoas físicas.
Se o governo efetivamente quiser interferir na formação do preço do câmbio, necessariamente deverá focar a operacionalidade do mercado de câmbio em si, de forma a afetar também o mercado de derivativos.
Tanto é que a expectativa que sempre predomina antes dos anúncios de “novas medidas” pelo Ministro Mantega, é saber se o Presidente do BC vai participar, pois os temores do mercado de câmbio são de que o BC realmente coloque o “peso de sua mão” em pontos extremamente sensíveis do mercado de câmbio.
Enquanto isto não acontecer, a impressão é que o governo continuará convivendo com o “status quo” presente, mas, como se percebe, sem perder a oportunidade de dar uma “boa beliscada” arrecadatória para reforçar suas receitas.
Podemos esperar outra rodada de mais apreciação do real, pois o mercado de câmbio está se convencendo de que a autoridade monetária, no caso o BC, não sugere estar propenso a “endurecer” o jogo e intervir firmemente, não com foco em fluxo, mas na operacionalidade que envolve o mercado de câmbio à vista, futuro, derivativos, etc.
Volatilidade? É possível se tivermos outra coletiva às 18.30 hs, mas, agora, provavelmente somente se o BC estiver presente!