Análise do Mercado – 07/04/2011

O Ministro Mantega manteve-se fiel ao seu “estilo”, pré-anuncia medidas cambiais do “seu vasto arsenal”, atrai muitos holofotes, mas o fato concreto é tão frágil em sua efetividade prospectiva para conter a apreciação do real, que poderia ter sido…

O Ministro Mantega manteve-se fiel ao seu “estilo”, pré-anuncia medidas cambiais do “seu vasto arsenal”, atrai muitos holofotes, mas o fato concreto é tão frágil em sua efetividade prospectiva para conter a apreciação do real, que poderia ter sido implementado como medida de rotina, sem “coletiva à imprensa”.

Assim agindo, acaba provocando o convencimento generalizado do óbvio, as autoridades monetárias não têm instrumentos eficazes para elevar o preço da moeda americana, quando muito, conseguem dar algum suporte, que, contudo, ainda é insuficiente para superar a influência dos derivativos.

Certamente, a imposição de IOF de 6% sobre os empréstimos externos até 360 dias teve um peso maior, como contingência do fluxo cambial, do que a mesma alíquota para 720 dias, e, se admitíamos alguma eficácia naquele prazo mais curto, não temos a mesma visão quando consideramos o prazo mais longo definido ontem, ficando uma desagradável percepção que a medida tem cunho oportunístico e é muito mais “arrecadatória”, travestida de medida de contenção do fluxo cambial.

No fundo foi uma medida de política fiscal focando aumentar receitas, e, com baixíssimo alcance no propósito utilizado para sua justificativa de contenção de apreciação do real.

Quem ingressa com recursos para realizar oportuna “arbitragem” o faz com prazo curto, até porque o cenário mundial requer cuidados, e, o próprio quadro fiscal e inflacionário do Brasil ainda não tem uma sinalização confortável.

O próprio fluxo cambial do 1º trimestre deste ano, positivo em US$ 35,6 Bi, dos quais US$ 31,01 BI Financeiros, denuncia o fluxo de curto prazo, motivado por ser via de reposição da liquidez retirada pelo aperto monetário imposto pelas autoridades monetárias que elevaram os depósitos compulsórios dos bancos, superando assim o aperto na liquidez, o que permitiu que o crédito continuasse fluindo e mantendo a economia aquecida e a demanda pressionando os índices inflacionários.

A imposição do IOF de 6% nas operações de até 360 dias foi estabelecido em 28/03 e os nºs conhecidos, pelo conceito câmbio liquidado (2 dias após), demonstram que o fluxo financeiro desde então ficou negativo, o que deixa uma sinalização de precipitação na nova medida, sem avaliação efetiva da eficácia da norma precedente.

O grande canal, “quase imperceptível” à grande maioria, visto que não impacta no fluxo cambial como ingresso, são as posições “vendidas” dos bancos no mercado de câmbio à vista, que tem uma capacidade rápida e eficaz de captação de recursos de curto prazo no exterior, sem muitas formalidades, de 1 dia a quantos dias necessários.

Atualmente estão próximas ao montante de US$ 10,0 Bi “bancados” por linhas de crédito que dispõe junto aos bancos estrangeiros a custos irrisórios, cujo equivalente em reais está no mercado financeiro fomentando liquidez e crédito a taxas brasileiras, gerando operações derivativas e exercendo pressão pró-apreciação do real.

Está faltando às autoridades monetárias “coerência”, pois se desejam obstar os ingressos de curto prazo, as posições “vendidas” dos bancos no mercado de câmbio à vista já deveriam ter sido drasticamente reduzidas, antes mesmo ou ao mesmo tempo em que foi decidida a aplicação do IOF de 6% nos empréstimos até 360 dias.

Não é porque não impacta no fluxo cambial que a restrição mais severa das posições “vendidas” dos bancos não deva ser aplicada, pois promove liquidez no mercado financeiro, indo frontalmente contra aos ideários da estratégia de contenção de inflação que vem sendo praticada pelas autoridades monetárias.

Na prática, os efeitos contrários aos interesses da política monetária do governo são mais intensos pelas posições vendidas” do que pelos próprios empréstimos de curto prazo, visto que repercutem mais amplamente.

As medidas das autoridades monetárias precisam ter objetivos certeiros e não tentativos, pois o excesso e a baixa eficácia conduzem ao descrédito, desconfiguram os ritos normativos do país nem sempre de forma pontual, provocando na ponta insegurança e incerteza a respeito do Brasil, e isto pode ter reflexos não desejáveis no futuro.

O real não é vítima do seu sucesso, mas sim do juro alto que o país pratica, absolutamente incompatível com o Brasil “investment grade” e com risco no entorno de 170 pontos no cenário internacional.

Embora, o sistema de câmbio flutuante seja considerado o melhor, existem circunstâncias que deixam evidente que não é o melhor para o país, como no caso do Brasil que pratica juros elevados e não tem poupança.

Este quadro conduz o governo a formar, por inevitável, uma reserva cambial em bases frágeis e vulnerável e elevado custo de carregamento. Provoca ainda a apreciação do preço do real causando danos ao setor exportador não agrícola e a indústria nacional pelas importações não essenciais.

E mais, o país passa a absorver capitais de países ricos aos quais promove excepcional rentabilidade e, na contra ponta os devolve aos mesmos países ricos como depósitos e aplicações de suas reservas em títulos dos mesmos, com uma remuneração irrisória.

Por isso, a China, embora rica, resiste tanto com o seu câmbio “administrado”….

Hoje, a “resposta” do mercado à medida deverá ser impondo forte apreciação ao real.

 

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