Os números quando “torturados” falam, como diz um conhecido sociólogo que fala de economia, e o que se constata neste momento é que estão falando algo diferente do que predomina como projeções e anseios para o ano próximo, 2013.
O governo precisa ter foco centrado preventivo para evitar que tenhamos em 2013 a repetição da decepção que 2012 trouxe com o nosso crescimento projetando pífios 1,5%, o que causa enormes repercussões no todo do país.
Importante relembrar que na edição de 30 de dezembro de 2011, o Boletim FOCUS apontava projeções medianas do mercado financeiro para 2012 como: US$ a R$ 1,75 – SELIC 9,50% – PIB crescimento 3,30% e PRODUÇÃO INDUSTRIAL crescimento de 3,43%. Todos estão muito distantes da realidade, somente a projeção para o IPCA de 5,32% se aproxima do quadro atual.
E importante destacar, a inflação projetada tende ao acerto, independente do dólar estar acima de R$ 2,00 e a SELIC em 7,25%, muito afastados das projeções, o que rompe “dogmas” que eram propagados pelo mercado financeiro como causadores de pressões inflacionárias.
Podem ocorrer argumentos que a crise internacional teve agravamento acima das expectativas impactando nos preços das “commodities”, que arrefeceram parte das pressões inflacionárias, mas isto pode ser uma meia verdade, visto que importantes “commodities” tiveram o preço elevado por questões climáticas e pressionando a alta do item alimentos.
Mas, hoje em 2012, já se tem uma visão mais clara sobre 2013 com perspectivas de não superação rápida do agravamento da crise internacional e pouquíssimas possibilidades de melhora do cenário, até, se realisticamente observada, com risco de piora antes que venha o período de recuperação.
Quando se analisa as perspectivas para 2013 para Estados Unidos, novo governo e que precisará alinhar a governabilidade com o Congresso e superar problemas imediatos como o “penhasco fiscal”, emprego, etc., não há entusiasmos. Ao observar-se a Europa e sua eurozona não se vê soluções criveis para alinhamento com crescimento, somente ações protelatórias num quadro caótico. A China que terá novos governantes precisará repensar seu modelo, já que em face de relevante dependência dos países desenvolvidos em razão do modelo exportador, tende a continuar perdendo performance no crescimento do seu PIB.
O governo, através o Ministro Mantega, confirma o que todo mercado já havia detectado: o governo não cumprirá a meta de superávit primário. Isto parecia óbvio numa economia que perdeu o ritmo e que, por conseguinte, perdeu a capacidade de gerar arrecadação em ritmo previsto no orçamento construído com projeções exacerbadas de crescimento.
Razões para justificar sempre haverá à larga, como já expostas, mas no fundo a realidade é que na fase de abastança quando arrecadamos e crescemos mais, gastamos e não poupamos e gastamos mal, não fizemos a lição exposta nos livros, a política anticíclica: poupar na fartura para gastar nos momentos menos favoráveis.
E por que devemos acreditar que em 2013 conseguiremos restabelecer o alcance do superávit primário, se o orçamento foi elaborado com projeções de crescimento acima do que a realidade coloca como perspectiva efetiva e em 2012 haverá insucesso?
A confiança no modelo de estímulo ao consumo via crédito perde força. Notícias veiculadas pelo jornal Valor apontam que o crédito está racionado e só atende 38% das vendas de veículos, que o governo vem incentivando com redução de tributos e que tem a importância de envolver 20% do PIB nacional. Dados divulgados pela Folha de SP, segundo a Austin Rating, somente no 1º semestre deste ano, os empréstimos atrasados que os bancos foram obrigados a registrar como novos prejuízos cresceram 46% (39% descontada a inflação) em relação ao mesmo período de 2011, somando R$ 38,0 Bi, que se for descontada desse montante a fatia de prejuízos antigos recuperados e créditos vendidos a instituições não financeiras, o valor cai para R$ 24,0 Bi.
Segundo a Austin Rating, “esses dados evidenciam a incapacidade de pagamento dos devedores, sejam empresas ou indivíduos”.
Há sinais preocupantes na área de geração de energia e temos dois eventos, Copa e Olimpíadas, nos próximos anos no país. Mas afora isto, este fato pode vir a inibir investimentos pela insegurança.
A Petrobrás aumenta suas importações, não eleva os preços para não impactar na inflação por interferência do governo, não consegue se capitalizar para investir, ameaça reduzir estoques e pode dificultar abastecimento. Importando mais afeta mais a nossa balança comercial.
A indústria desaponta com a sua queda de atividade e não reação com investimentos, e precisa ser mais estimulada, pois é geradora de arrecadação, emprego e renda.
O emprego ainda se mantém, mas se 2013 não mostrar atividade econômica revigorada, certamente a retenção de mão de obra qualificada que vem sendo praticada pelas empresas na expectativa de que o ritmo de atividade se recupere, poderá sofrer reversão.
Não devemos esperar grande fluxo cambial para o Brasil, hoje menos atrativo e com intensa concorrência de outros mercados emergentes. As perspectivas de IED´s que poderiam ser grandiosas principalmente focando a privatização da recuperação da infraestrutura do país contêm regras que parecem inibir os investidores estrangeiros. A balança comercial tende a refletir o aumento da concorrência externa e ainda a demanda relativamente deprimida das “commodities” e queda nos preços, salvo intempéries da natureza.
Por isso, entendemos e temos insistido que o caminho imediato para o novo estímulo à indústria nacional só poderá vir pelo câmbio e não mais pelo juro. Um nível mais alto da taxa cambial aumenta a competitividade da indústria nacional no exterior, mesmo que replicando a prática “delfiniana” de décadas atrás, ao mesmo tempo aumenta também no mercado interno ao tornar o preço do concorrente importado mais caro. E o contexto incentivará a retomada do investimento para atender a demanda, o que não ocorre no momento.
O câmbio já foi admitido “sujo” pelo governo, desta forma antecipar um preço de dólar que ocorrerá naturalmente em 2013 no Brasil por razões de fluxo, seria prudente focando o crescimento da atividade econômica com a contribuição imprescindível da indústria.
Como temos salientado, tempos atípicos, sugerem métodos atípicos, não recomendáveis como regra, porém necessários no momento.