O mercado financeiro global tende a “andar de lado” e operar com cautela e forte expectativa em torno da eleição americana, que ocorre amanhã, e a transição de poder na China que terá início dois dias após, e que se constituem em eventos da maior relevância para definição de perspectivas.
Analistas, estrategistas em investimentos e gestores de investimentos de recursos concordam que o “penhasco fiscal” pendente representa uma grande ameaça para o mercado de ações, e que se houver fracasso do novo governo para tratá-lo e surgir simultaneamente aumento de impostos e cortes de gastos que estão previstos para 1º de janeiro, o país poderá ser levado de volta à recessão e a um nível maior de desemprego.
Na China, a transição irá definir um novo elenco para a poderosa Comissão Permanente do Politburo, pequeno grupo de funcionários que exercem o poder enorme sobre a economia fortemente controlada da China para os próximos anos. A China, segunda maior economia do mundo, que manteve um crescimento por anos de 10% sustentado vem revelando desaceleração recente ao registrar 7,4% no 3º trimestre deste ano. Embora o desempenho não possa ser considerado um desastre, o seu ritmo mais lento coloca em foco as preocupações sobre a sustentabilidade do modelo de Pequim, que em parte reflete as repercussões da crise internacional, mas há notórias mudanças internas, como a urbanização intensa de sua população; dimensão do seu PIB; etc. que fragilizam a capacidade de continuar crescendo ao ritmo antecedente. Enfim, no centro dessas preocupações há um conjunto de problemas estruturais, os quais necessitam de reformas que a liderança anterior do partido – dividido sobre politica – não conseguiu concluir.
Afinal, o peso de Estados Unidos e China junto representam quase 1/3 do PIB mundial.
À margem destes relevantes eventos de grande importância global, observa-se que é crescente o que de há muito já temos destacado, a percepção de que há riscos substantivos de piora nas perspectivas em relação à economia global que pode conduzir 2013 a um perfil muito semelhante a 2012, neutralizando todas as projeções otimistas que vem sendo formuladas sem grande base fundamentalista.
Os problemas globais que vem afetando a economia mundial desde 2008/2009 continuam presentes, com pequenas variações, mas continuam sem definições que minimizem as incertezas, visto que tudo o que foi feito envolve financiamentos para evitar colapsos, mas não houve até o momento decisões disciplinares fundamentais na eurozona, sem o que só é evitado o caos, mas não se aproxima da viabilização da recuperação.
Todas as grandes economias estão afetadas, o que no processo em cadeia afeta os emergentes que, como a China, não se revelaram capazes de evitar repercussão no ritmo de suas atividades, que se fragilizaram. Os emergentes, como o Brasil, fornecedores de insumos básicos para o mundo foram afetados pela redução dos volumes de demanda e preço e, só não foi pior devido problemas climáticos terem provocado aumento pontual dos preços de algumas “commodities agrícolas”.
O governo brasileiro reagiu com a redução do juro, fato histórico, mas que sabidamente não comporta mais reduções face aos níveis de inflação atual e as taxas de juros reais prevalecentes no mundo neste momento.
Estimula o consumo interno, mas como a população não tem poupança, o acesso se dá por crédito e os níveis de endividamento são grandiosos da família brasileira e os sinais de inadimplência poderão se tornar preocupantes se este caminho continuar sendo estimulado.
O emprego continua a ser gerado, porém em ritmo menor, e há claramente a retenção da mão de obra de qualidade por parte das empresas, visando uma recuperação da economia. Mas isto poderá ser desarmado caso o nível de atividade econômica não ganhe robustez, e se esta reversão ocorrer poderá ser relevante.
Imaginar-se crescimento de 4,0% a 4,5% para 2013, após um ano com crescimento de 1,5%, em que as perspectivas da economia mundial tendem a serem similares deixa evidente que há otimismo demasiado.
A indústria com seus dados mais recentes demonstra-se pouco responsiva aos estímulos do governo, causando mesmo desapontamentos e comprometendo as projeções.
Por isso, a despeito de ser um item contributivo para pressões inflacionárias, nos parece necessário que o governo eleve a banda cambial de R$ 2,00 a R$ 2,05 para R$ 2,05 a R$ 2,10. Primeiro porque seria um “plus” a mais no estimulo a indústria, seja pelo aumento da competitividade externa, seja pela melhora na competição com o produto importado no mercado interno. E, em segundo lugar, o próprio fluxo cambial para o país tendente a negativo justificaria a liberação.
E por falar nisto, o BOLETIM FOCUS, datado de 1º de novembro último, divulgado pelo Banco Central do Brasil, aponta elevação da projeção do preço do dólar para o final do ano de R$ 2,01 para R$ 2,02, o que, no nosso entender, ainda é baixo e esta alinhada pontualmente com o momento e não com a perspectiva. No mais o informativo apresenta discretas mutações nas projeções da semana passada, merecendo destaque, o que reforça a nossa colocação de necessidade de estimular a indústria, a elevação de – 2,10% para – 2,31% da produção industrial.
Pelo contexto da avaliação possível do cenário global e interno, acreditamos que o Banco Central do Brasil devesse alterar a banda cambial para R$ 2,05 a R$ 2,10 ainda nesta primeira quinzena de novembro, promovendo um estimulo adicional para o importante e fundamental setor industrial brasileiro, gerador de empregos e de renda.