Análise do Mercado – 04/04/2011

Existem “dogmas” que resistem no mercado financeiro e que precisam ser revistos, caso contrário não haverá alinhamentos e teremos, então, conflitos de conceitos entre as estratégias colocadas em prática pelas autoridades monetárias e as…

Existem “dogmas” que resistem no mercado financeiro e que precisam ser revistos, caso contrário não haverá alinhamentos e teremos, então, conflitos de conceitos entre as estratégias colocadas em prática pelas autoridades monetárias e as “desejadas” pelas instituições financeiras, colocadas por seus analistas.

No campo da inflação, a crença, decorrente dos inúmeros anos de prática, é que a contenção somente ocorre com a elevação do juro. Mas, se avaliarmos como o crédito é concedido no país para empresas pelos organismos públicos, veremos que utilizam outros indicadores que não a SELIC, mas TJLP e outras; no crédito ao consumidor, cheque especial, cartões de crédito, etc., taxas bastante distantes da SELIC, algumas superiores ao mês à SELIC ano. E o crédito de rotina às empresas fica bem distante, também da SELIC.

Sabidamente, taxa de juro não inibe a demanda de consumo no país, mas sim a restrição de prazos, pois determina a elevação das prestações e estas passam a não ser suportadas pelo orçamento doméstico.

As medidas prudenciais, então, tendem a ser mais efetivas para conter a demanda, desde que visem a diminuição da liquidez e a retração dos prazos. Com isto, devem repercutir contendo as pressões inflacionárias de demanda. Ademais, devemos ter em mente que estas medidas nada mais são do que corretivas dos excessos estimulados pelo governo anterior, que também é responsável pela inflação presente, mas esta realidade é contida pelo fato do governo atual ser a continuidade do anterior, o que não implica que seja igual, até porque impossível continuar na mesma dinâmica.

O governo tem atuado “fechando” todas as fontes de irrigação de liquidez, depois do aumento dos compulsórios e restrições de prazos, vieram as elevações do IOF em vários momentos, sendo a mais recente focando inibir os empréstimos externos de curto prazo, contratados em grande monta ao longo do 1º trimestre, e que confrontavam com os propósitos das estratégias do governo de contenção do crédito.

Resta agora as autoridades monetárias restringirem de forma mais firme e rigorosa as posições “vendidas” dos bancos, que hoje passam a ficar sujeitas a compulsório se excederem o limite normatizado pelo BC em torno de US$ 3,0 Bi por instituição. É absolutamente necessário que este limite seja reduzido a um mínimo severo, visto que, potencialmente, estas posições são captadoras de recursos externos de curto prazo, de forma mais eficaz e rápida do que os empréstimos externos de curto prazo declarados e aos quais foi imputado IOF de 6%. E esta importante fonte de entrada de recursos externos que vão desaguar no crédito ao consumidor passa quase de desapercebida da grande maioria, visto que não impacta como fluxo cambial, e, ademais tem também potencial considerável de indução à apreciação do real.

Esta medida está faltante no rol de medidas adotadas pelas autoridades monetárias. As posições “vendidas” dos bancos no mercado de câmbio físico à vista devem ser reduzidas a uma condição mínima para ser transitória, principalmente porque o país tem abundância de ingresso de divisas.

Pegando um gancho em sequência, o segundo “dogma” é que o fluxo cambial é que promove a grande apreciação do real. Esta é uma meia verdade, que de tão repetida acabou predominando, principalmente, na mídia, e que contudo, não resiste a uma leitura dos números do fluxo cambial.

O BC, ao longo do ano passado, retirou, comprou do mercado US$ 24,0 Bi além do fluxo cambial positivo. Ora, se considerarmos o conceito de oferta e demanda, o preço da divisa americana deveria ter sido apreciada fortemente. Contudo, foi o real que se apreciou.

A grande realidade é que o mercado de derivativos foi, ao longo do governo anterior, o grande formador do preço da moeda americana, e, sabendo os “players” de que as autoridades monetárias utilizavam largamente o real apreciado para, por vezes, como “âncora”, por vezes, como “coadjuvante”, ser instrumento de contenção da inflação fortemente decorrente da expansão do consumo interno estimulado a farto e longo crédito, gastos governamentais excessivos e política fiscal frouxa, consumaram como tendência permanente o dólar em depreciação. Era fácil demais ganhar. A crise de 2008 foi um imprevisto, ocorreu uma temporária especulação contra o real que causou perdas a inúmeras empresas, que seriam do governo com seus “swaps cambiais reversos” acima de US$ 20,0 Bi colocados no mercado, não tivesse ocorrido a crise. Passado o momento de pico da crise, a tendência de apreciação do real retornou com seu antigo perfil.

Seria importante que todos observassem mais detidamente os números do fluxo cambial. O 1º trimestre não foi pródigo em ingressos para aplicações em renda fixa e renda variável, assim entendida a Bovespa, mas sim em “empréstimos externos de curto prazo” que se revelou como alternativa de crédito para liquidez ante às medidas prudenciais a partir de dezembro de 2010.

O governo, ainda que tardiamente, com o IOF de 6% imposto para os empréstimos de curto prazo externos, assim entendido 1 ano, deve fazer reduzir este fluxo de ingresso, muito embora haja um movimento “orquestrado” no sentido de desqualificar a eficácia da medida.

Será importante acompanharmos nas próximas semanas, com base nos números divulgados pelo BC e não no “achismo”, os impactos efetivos no fluxo cambial. Certamente, haverá efeitos de retração no volume.

Se o BC reduzir mais ainda as posições “vendidas” dos bancos no mercado de câmbio físico a vista, de forma mais rápida, certamente ficarão bastante restritas as tomadas de empréstimos de curto prazo no mercado externo, reduzindo sobremaneira a liquidez no mercado financeiro.

A taxa cambial até o dia 31 teve o real fortemente apreciado por ação direta dos “players” posicionados “vendidos” no mercado de derivativos, principalmente os “hedge funds”. Aparentemente, não confiaram que o real poderia ser ainda mais apreciado, por isso houve interesse baixíssimo nos “swaps cambiais reversos” ofertados pelo BC naquele dia.

Contudo, no dia 1º de abril, agora por ação dos bancos, que no dia 31 estavam praticamente em posição neutra, mas naquela data seguinte tinham que ajustar suas posições “vendidas” aos novos parâmetros vigentes a partir de hoje, e, então, apreciaram o real para que as aquisições necessárias para os ajustes fosse realizada no melhor preço possível.

E tudo ganhou manchete atribuindo os fatos ao fluxo cambial positivo, que pode até não ter havido, e se houve não foi para tanto.

Como costumamos afirmar “no câmbio nem tudo que aparenta efetivamente o é!”

No nosso modo de entender, não há mais necessidade de IOF focando os ingressos de divisas no país, mas sim, esperamos, medidas neutralizando canais ainda abertos de captação de recursos externos de curto prazo, como são pontualmente as posições “vendidas” dos bancos no câmbio à vista, e que teriam duplo efeito, na liquidez e no preço do câmbio. Além disto, mais aumento de depósito compulsório com foco no crédito a consumo.

O BOLETIM “FOCUS” divulgado hoje com data de sexta-feira, dia 1º, pelo BC, contendo as projeções medianas de 100 instituições financeiras, continua com uma visão negativa quanto a inflação pelo IPCA, elevando a projeção para 2011 de 6,00% para 6,02% e para 2012 de 4,91% para 5,00%, e para os próximos 12 meses reduzindo de 5,45% para 5,35%. A projeção para o US$ foi mantida em R$ 1,70, porém a média foi reduzida de R$ 1,68 para R$ 1,67. A SELIC mantida em 12,25% aa e o crescimento do PIB em 4%, com uma discreta melhora da produção industrial de 4,00% para 4,08%.

No nosso entender, o preço da moeda americana deverá, gradualmente e com alguma volatilidade, retornar a R$ 1,65, taxa que nos parece ser entendida pelo BC como neutra. No curto prazo, ao longo do 2º trimestre, acreditamos que tenderá a manter-se entre R$ 1,65/1,67, para a partir do 3º trimestre, com uma visão mais consolidada a respeito dos IED´s, balança comercial e déficit em transações correntes, tender a R$ 1,70 ao final do ano.

Continuamos focando a necessidade do governo através o MF desonerar as exportações do setor industrial exportador não agrícola, não se deixando enganar com os números recentes da produção industrial, para manter aquecidos os investimentos privados e o nível de atividade gerando emprego e renda.

 

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