O mercado financeiro parece meio confuso acerca da estratégia do governo visando a convergência da tendência inflacionária presente, e, após a elevação da taxa SELIC em 0,50% decidida pelo COPOM na quarta-feira, o segmento de juros na…
O mercado financeiro parece meio confuso acerca da estratégia do governo visando a convergência da tendência inflacionária presente, e, após a elevação da taxa SELIC em 0,50% decidida pelo COPOM na quarta-feira, o segmento de juros na BM&FBovespa reagiu elevando os indicadores de longo prazo, e, sinaliza estar esperando um período mais longo de aperto monetário e não mais 150 pontos no ajuste total, mas agora, 200 pontos este ano.
Este parece ser o controverso presente entre os “players” do mercado financeiro e os novos gestores do BC/COPOM/MF.
Os primeiros estão acostumados à “via única do juro” como instrumento de combate à inflação e, também, a serem os indutores das decisões, e parecem pouco confortáveis com a utilização de novas estratégias por parte da autoridade monetária, já que não gostam de conviver com incertezas, pois afetam seus posicionamentos.
Na outra ponta, os novos gestores da política monetária demonstram propensão à utilização de estratégia abrangendo não só o juro, mas também a liquidez e o crédito como fatores relevantes na ação de enfrentamento da inflação, além dos cortes nos gastos de governo, com precisa manifestação ontem da Presidente Dilma, confirmando de forma segura que o objetivo do corte orçamentário visa conter inflação, desfazendo a contradição cometida a respeito pelo Ministro Mantega.
E, acreditamos que seja muito provável que novo aperto venha adicionalmente por medidas prudenciais complementares às antecedentes, visto que o crédito e o consumo ainda estão bastante aquecidos.
Por esta opção, será possível reduzir o desequilíbrio entre oferta e demanda, neutralizando as pressões inflacionárias, e o Tesouro estará poupando recursos com o custeio da dívida pública, que naturalmente, se elevam a cada alta da taxa SELIC.
E, ao que parece, a partir de uma leitura sobre o comportamento do preço do dólar ontem, o governo também reforçará a parceria com o real um pouco mais apreciado, para complementarmente contribuir para a contenção das pressões inflacionárias, principalmente as advindas dos preços das “commodities” agrícolas que, ao terem seus preços elevados nas bolsas internacionais, acabam migrando os seus efeitos para o nosso consumo interno, e um dólar mais baixo amortece um pouco este efeito.
Importante observar que o BC teve atuação discreta ontem no mercado de câmbio, realizou um único leilão, e não teve atitude defensiva do preço da moeda americana, como que concordando com a apreciação do real.
Cada vez mais, fica patente a necessidade do governo agir pró-setor industrial exportador não agrícola, desonerando-o e incentivando-o à exportar com medidas que, de forma indireta, recompõe a competitividade a nível externo, para não conduzi-lo ao desânimo e interrupção de investimentos, já que o mercado interno tende a queda e ainda precisará ter o consumo mais desestimulado com novas medidas prudenciais.
Está bastante evidente que o país terá dificuldade em fazer o PIB crescer 5%, provavelmente mais perto de 4%, e deve agir pontualmente estimulando setores que podem manter nível de atividade e geração de emprego, agora focando o mercado externo como compensatório ao arrefecimento do mercado interno.
A divulgação dos números do PIB brasileiro de 2010, com a exuberância dos seus 7,5%, revela também dados incontestáveis de descuidos havidos por parte do governo.
O Brasil, revela a realidade dos números, é o país que detém a 3° menor taxa de investimento em relação ao PIB entre os principais países emergentes. Nossa taxa de investimento foi de 21,8% do PIB, mas já com acentuada queda no 4º trimestre, enquanto Peru, Chile e Colômbia rondam os 25%, isto para não comparar com China com 47% e Índia com 32%.
Os números indicam que gastamos demais, poupamos e investimos de menos, por isso tantas deficiências infraestruturais que barram a sustentabilidade do nosso crescimento.
Como consequência teremos um 2011 mais difícil, retroagindo obrigatoriamente pela incapacidade de sustentação do ritmo da economia e necessidade de “colocar a casa em ordem”.
Há uma “queda de braço” em perspectiva entre o mercado financeiro e os gestores da política monetária do governo, que só o transcorrer do tempo evidenciarão os resultados, mas certo é que a visão de combate da inflação do mercado não é a mesma predominante no governo.
No mercado de câmbio, acreditamos, o BC objetivou ontem que o real se apreciasse um pouco mais para R$ 1,65, e neste ponto deve passar a defendê-lo, pois se não o fizer com vigor os “players”, posicionados “vendidos” e com um bom estoque de “swaps cambiais reversos” em carteira, forçarão mais apreciação e não necessariamente em decorrência do fluxo cambial.