Enfim, ainda que tardiamente, não se pode deixar de considerar extremamente “prudenciais” as medidas divulgadas pelo BCB focando a redução do ritmo do crédito e intensificar o processo necessário de desaceleração da economia, evitando assim…
Enfim, ainda que tardiamente, não se pode deixar de considerar extremamente “prudenciais” as medidas divulgadas pelo BCB focando a redução do ritmo do crédito e intensificar o processo necessário de desaceleração da economia, evitando assim o aumento das pressões inflacionárias oriundas do consumo aquecido.
Elevando os percentuais de depósitos compulsórios dos bancos, estimando-se que retirará algo como R$ 61,0 Bi da economia, e determinando restrições para empréstimos de longo prazo às pessoas físicas e a retirada da ajuda do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para bancos de menor porte, o governo tende a restaurar os padrões de crédito para o período pré-crise e evitar a formação de bolha.
Houvesse se antecipado um pouco no tempo, certamente teria amenizado as pressões inflacionárias presentes, mas é razoável admitir que poderia se revelar uma decisão politicamente incorreta em tempos de disputas eleitorais.
Esta era uma atitude reivindicada pelos economistas no sentido de atenuar a curva ascendente da inflação, e, certamente, se não for bastante em si para postergar a elevação da SELIC no curto prazo, seguramente, altera as expectativas da curva longa do juro, e esta é a que se configura importante para a economia, pois a inflação perderá força.
Nossa percepção indica também que, momentaneamente, uma apreciação mais intensa do real pode estar sendo desejada pelo governo, contrariando a indicação de conforto no intervalo entre R$ 1,70 a R$ 1,75, mas agora é o mercado que está inseguro em implementá-la com receio de que o governo venha a adotar novas medidas de interferência no mercado cambial.
É razoável admitir-se que a divulgação das normas afetando o crédito para consumo já possa estar alinhada com diretrizes do novo governo, e, adicionalmente a apreciação do real, poderia, estrategicamente, evitar a necessidade de elevações maiores na SELIC, que certamente dificultariam mais a trajetória que o novo governo pretende imputar de juros reais e nominais menores.
Ao mesmo tempo, o atual e futuro Ministro da Fazenda, Guido Mantega, antecipa-se divulgando que o Tesouro cortará os subsídios de juros ao BNDES, além de serem reduzido em 50% às transferências de recursos para este banco.
Menos recursos, natural aumento da seletividade e conseqüente retração na facilidade de acesso ao crédito, com reflexos diretos na pressão de consumo e desacelerando as pressões inflacionárias.
Um bom sinal que responde em parte as dúvidas que vêm sendo colocadas pelo mercado financeiro, ávido sempre que o instrumento de contenção inflacionária seja sempre o juro, e demonstrando que outras variáveis estarão sendo utilizadas para contenção da inflação.
Naturalmente, a construção de uma nova matriz de política monetária, fiscal e cambial poderá demandar algum tempo, mas é importante a formação consistente de expectativas, já que estas é que norteiam as decisões e projeções.
Assim, a “liberação” da política cambial do atrelamento à política monetária que cria, por ações estrategicamente desenvolvidas e nem sempre percebidas pela maioria, viés de apreciação do real incompatível com a realidade para utilizá-lo como “âncora” no controle cambial, ajudando o juro a cumprir o objetivo que isoladamente não alcança, pode ser projetada em perspectiva de médio prazo, quando poderá ocorrer a maturação da aplicação de nova dinâmica de controle inflacionário.
Com uma taxa cambial mais realista, não explosiva, poderemos ter um desempenho do comércio exterior de produtos não agrícolas outra vez significativo, possibilitando que não sejam desincentivados os investimentos, já que a retomada da exportação tenderá a substituir a retração do consumo interno. E, por outro lado, as importações de bens supérfluos e desnecessários ao país devem perder competitividade com um preço mais justo da moeda americana.
Ainda internamente, importante destacar que a Receita Federal publicou no D.O.U. de hoje, norma que torna obrigatório o fornecimento de dados sobre operações cambiais na DIMOF (Declaração de Informações sobre Movimentação Financeira), com foco declarado na fiscalização dos tributos incidentes (IRRF, CIDE, IOF Câmbio, PIS, PASEP, Importação, Cofins, etc.)
As normas cambiais mais recentes do BCB têm proporcionado maior liberdade nos fluxos de recursos, impondo às corretoras e bancos maior responsabilidade sobre a legalidade das transações, e, agora a RF exercerá maior controle sobre a arrecadação correta dos tributos.
No cenário externo ainda ontem perdurou o ambiente de otimismo com os dados da economia americana, chinesa e das medidas de suporte aos países em crise fiscal na Europa.
Contudo, hoje foi divulgado o dado sobre o emprego em NOVEMBRO nos Estados Unidos com decepcionantes 39.000 novas vagas, muito abaixo das projeções que iam de 150 a 200 mil e distante dos 172.000 novos postos criados em outubro. A taxa de desemprego nos Estados Unidos subiu para 9,8%.
Um forte desapontamento no mais importante dado para a economia americana, visto que é dependente do consumo interno e se o emprego não ganha dinamismo todos os demais dados passam a ter importância relativa na observação da recuperação da atividade econômica do país.
Este fato tem potencial para colocar as bolsas em linha de baixa e fragilizar o dólar ante as demais moedas dos países desenvolvidos.
Os T-Bills de 10 anos já se valorizam e fechando a curva de juro “yeld” ontem em 3,0% e já em 2,91% hoje podendo acentuar a queda da rentabilidade. O Euro se valoriza ante o US$ e já supera US$ 1,33.
Esta generalização de fragilidades em contínuo destaque provoca um comportamento volátil nas paridades entre as principais moedas fortes, não havendo tendências, visto que estão sujeitas sempre a um fato novo positivo ou negativo, e ele sempre vem!