Análise do Mercado – 03/06/2011

O cenário econômico global continua emitindo sinais preocupantes de desaceleração nas economias que deveriam, em tese, estar dando sinais de recuperação após a expressiva ajuda oferecida pelos governos, que acabaram “concentrando” em si mesmos o que a crise iniciada em 2008 havia disseminado pelos agentes…

O cenário econômico global continua emitindo sinais preocupantes de desaceleração nas economias que deveriam, em tese, estar dando sinais de recuperação após a expressiva ajuda oferecida pelos governos, que acabaram “concentrando” em si mesmos o que a crise iniciada em 2008 havia disseminado pelos agentes financeiros, ao mesmo tempo em que países periféricos da União Europeia não conseguem impor disciplina fiscal recuperatória, mesmo após terem sido socorridos pela comunidade em parceria com o FMI.

Nos Estados Unidos, na sequência de dados desapontadores e situação fiscal severamente comprometida, que coloca em perspectiva uma avaliação do “rating” do país em queda, os dados divulgados hoje sobre o emprego foram extremamente desapontadores. Maio criou tão somente 54 mil novos postos de trabalho, ante uma projeção consensual dos analistas de 165 mil, após uma alta revisada de 232 mil em abril. O desemprego subiu de 9,0% para 9,1%.

Afora os números negativos da economia, o término ao final deste mês do programa de liquidez do FED e a atitude contrária do Congresso americano a elevação de endividamento do governo, colocam “holofotes” sobre o risco dos bancos americanos.

Como consequência, a postura dos investidores é absolutamente defensiva, o que pressiona o preço dos T-Bills e fecha as curvas de rentabilidade “yeld”. Os papéis de 10 anos sinalizam rentabilidade de 2,97%, mas devem fechar até 2,95%. Por outro lado, o US$ cai ante o Euro, cotado a US$ 1,4541 e se valoriza ante a libra esterlina cotada a US$ 1,6337 como reflexo do índice PMI de atividade no setor de serviços no Reino Unido ter demonstrado desaceleração em abril, como anunciado hoje.

As bolsas americanas revelam movimento de “selloff”, típico com a piora das perspectivas para a economia.

Na Europa, os países periféricos continuam na “mira”, mas sabem que enquanto estiverem no “chapéu do euro” os ricos não vão deixar os pobres quebrarem, muito embora, por vezes, os deixem em estado de agonia. O plano de socorro número 2 para a Grécia pode estar em vias de se tornar efetivo, mas, como era nossa expectativa externada algum tempo atrás, há clara tendência de que as novas ajudas envolvam intervencionismo por parte da União Europeia, que poderia tomar decisões sobre os gastos dos países receptores, detalhe já sugerido pelo Presidente do BCE, Jean Claude Trichet, o que faz todo o sentido, pois, sem tutela, certamente não conseguirão recompor as suas finanças.

O Euro está com viés de alta frente ao dólar, dada à situação de piora contínua da economia americana, mas não se pode considerar tendência, pois o efeito “gangorra” nos ativos persiste com base no sentimento de “qual está menos pior neste momento”.

No Brasil, onde o mercado financeiro está afinado e orquestrando a necessidade mínima de alta na SELIC de 0,50%, em uma ou duas decisões, com alguns agentes indo até além, foi anunciado o PIB do 1º trimestre com crescimento de 1,3% na série ajustada sazonalmente. No confronto interanual o crescimento foi de 4,2% e de 6,2% no acumulado em 4 trimestres.

Em ambos os conceitos verifica-se desaceleração frente ao resultado do 4º trimestre de 2010.

No clube dos emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) o crescimento da economia brasileira no 1º trimestre ficou à frente somente da Rússia e por muito pouco. A China apontou 9,7%, Índia 7,8%, África do Sul 4,8%, enquanto a Rússia 4,1%.

O Brasil precisa efetivamente reduzir o ritmo, poupar mais para fazer o que não foi feito na infraestrutura necessária para o crescimento sustentável. A redução está sendo constatada, assim como a poupança, resta agora verificar-se a atuação com foco na infraestrutura. Mas, quando considerado o PIB per capita, a ordem é quase inversa, com a Rússia liderando com US$ 15,9 mil e o Brasil em segundo com US$10,9 mil enquanto a China aparece em quarto com US$ 7,4 mil.

No item produção, a agropecuária cresceu 3,3%; a indústria 2,2% e os serviços 1,1%. Os investimentos registraram expansão trimestral de 1,2%, ante 0,4% no 4º trimestre de 2010. O consumo das famílias apresentou desaceleração de alta de 2,3% no 4º trimestre de 2010 para alta de 0,6% neste trimestre.

Os posicionamentos nos derivativos continuam evidenciando forte especulação pró-real por parte dos “hedge funds” e um posicionamento mais sensato por parte dos bancos, que estão na ponta contrária, suficiente para cobrir a posição exposta no mercado físico, com uma certa sobra.

Persiste a volatilidade do preço do dólar num piso muito baixo, entorno de R$ 1,58, e embora o Ministro Mantega já tenha se manifestado sobre o seu “arsenal” de medidas, nos parece que, a despeito de não ser ideal, esta taxa do dólar deprimida colabora de maneira eficaz para melhorar o controle da inflação, amortecendo os efeitos dos preços das “commodities”, em especial.

 

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