A reação bipolar de sentimentos do mercado financeiro global tem sido extremada, alternando de forma abrupta sentimentos negativos e positivos, e este comportamento provoca reações que podem conter excessos, como a que ocorreu…
A reação bipolar de sentimentos do mercado financeiro global tem sido extremada, alternando de forma abrupta sentimentos negativos e positivos, e este comportamento provoca reações que podem conter excessos, como a que ocorreu ontem.
Evidentemente deve ser motivo de consideração o forte desempenho da indústria manufatureira chinesa, da mesma forma que sinais mais persistentes de melhora da economia americana, sentimento expressado pelo Livro Bege, e com indicativos preliminares da ADP, empresa processadora de folhas de pagamentos, de que a economia americana pode ter criado inesperadas 93 mil novas vagas, não se podendo perder de vista que a margem de acerto desta fonte é baixa, e ainda com a revisão para melhor da projeção de crescimento do PIB americano por parte do Godman Sachs, o “conjunto de notícias positivas” tem potencial para atenuar o negativismo predominante em razão da difícil situação fiscal dos países periféricos da eurozona.
Mas, a reação eufórica dos mercados financeiros foi um pouco além da relevância dos fatos, visto que o que se vislumbrou são sinais discretos na direção objetivada, mas ainda com a prevalência de problemas maiores a serem superados no médio e longo prazo.
Esta opção de procurar ver o que há de menos ruim e esquecer o que continua mal e preocupante afasta a sensatez que deve prevalecer em cenários complexos envolvendo enfraquecimento de economias importantes, o mesmo valendo para o inverso.
Após um novembro extremamente negativo, não faz senso as bolsas americanas repercutirem sinais de sobrevida da economia americana e o desempenho forte da indústria chinesa com altas acima de 2,0%, levando nesta onda também a BOVESPA. É muito, pode até continuar hoje, mas certamente há um componente de irracionalidade, que podemos denominar especulação, pois certamente na sequência voltará a ser destacado algum fato negativo, e ocorrerão os ajustes, confirmando a máxima do setor de intermediação que é universal: “corretores vivem de giro e não de juros”.
O petróleo subiu expressivos 3,0%, tendo o preço do barril na Nymex elevado em US$ 2,67 cotado a US$ 86,78, e naturalmente no cenário americano este fato repercute imediatamente na ponta do consumo e, por conseguinte, na inflação.
Os T-Bills imediatamente perderam valor e abriram suas taxas de juros “yeld” de 2,80% aa para 2,96% aa., o que deixa evidente, como termômetro, a queda das pressões negativas.
O Euro fechou sendo cotado a US$ 1,3138 após ter ameaçado romper o US$ 1,30 no dia anterior.
Mas o fato marcante é a possibilidade do BCE anunciar também um novo “quantitative easing”, liquidez no mercado europeu comprando títulos públicos do sistema financeiro. E mais, com a ajuda americana e do FMI.
Este é um fato relevante para enterrar de vez a tão falada “guerra cambial” , pois certamente há caminhos e princípios para os quais não há alternativas mais imediatas, que não seja a dos receituários preconizados pela teoria econômica. Certamente, tornando-se efetiva a ação do BCE, a expressão “guerra cambial” será esquecida, visto tratar-se de um modismo e pura ficção em busca de criar um fato. E, o Euro certamente repercutirá na sua relação paritária os reflexos da atuação do BCE, caso venha a se consolidar.
No Brasil, continuam crescendo as incertezas e diminuindo as certezas. As apostas estão abertas.
Há argumentos fortes justificando as pressões no sentido de um aperto monetário mais intenso, a partir de dezembro ou impreterivelmente janeiro, seguindo a lição da cartilha destes últimos anos, elevação da taxa SELIC. Da mesma forte, mas com contingente menor, estão os que acreditam que o novo governo adotará novas opções, sendo capaz de implementar o ajuste fiscal forte que tem propagado e ter foco numa taxa de juro menor nominal e real.
No meio deste confronto esta o destino do dólar.
Se a dinâmica adotada pelo novo governo for a de aumentar a SELIC, certamente continuará também dependente do real apreciado como “coadjuvante importante” na complementariedade da estratégia de contenção das pressões inflacionárias, pois já ficou evidente no atual governo que somente o juro não consegue cumprir esta missão. Teríamos então, mais do mesmo.
Se a estratégia for outra, com aperto fiscal ancorada na redução forte dos gastos, etc., então o comportamento do câmbio será mais livre e poderá flutuar efetivamente e buscar um preço mais equilibrado, porém nada explosivo, mais contributivo com as exportações brasileiras e viabilizando um melhor desempenho da balança comercial, já que poderá contrair volumes de importações de bens de consumo supérfluos.
Por ora, o dólar continua sendo “administrado” pelo governo na faixa de R$ 1,70 a R$ 1,75.
Medidas normativas e tributárias dão sustentação ao piso de R$ 1,70, e o mercado parece entender que se o
romper cria o risco do governo vir com outras medidas. No piso alto de R$ 1,75 o BCB contingencia a alta com a sua política indutora à apreciação do real, mediante o estímulo de manutenção pelos bancos de posições “vendidas” no mercado a vista, consequentes do fato de que ele, BCB, retira do mercado volumes acima do excedente do fluxo cambial.
Dados do fluxo cambial até o dia 26 de novembro, divulgados ontem, confirmam a manutenção desta dinâmica pelo BCB. O fluxo cambial até então estava positivo em US$ 1,2 Bi e o BCB já havia retirado US$ 2,1 Bi, elevando ainda mais o montante das posições “vendidas” dos bancos, que já supera os US$ 14,0 Bi.
Enfim, o câmbio está definido para este ano, e o seu comportamento futuro está dependente das diretrizes que vierem a ser adotadas pelo novo governo, e, então só resta esperar!