FOCUS – RELATÓRIO DE MERCADO –MEDIANAS DAS PROJEÇÕES DO MERCADO FINANCEIRO – DATA BASE: ULTIMA EDIÇÃO DO ANO – ERROS E ACERTOS
ITENS PROJETADOS | 2011 p/2012 | 2012 | 2012 p/2013 |
IPCA | 5,32% | 5,71% | 5,47% |
IGP-DI | 4,99% | 8,13% | 5,34% |
IGP-M | 5,08% | 7,82% | 5,31% |
R$/US$ | 1,75 | 2,045 | 2,09 |
SELIC | 9,50% | 7,25% | 7,25% |
PIB | 3,30% | 0,98% | 3,30% |
PInd | 3,43% | -2,31% | 3,50% |
C/C US$ | -68,0 Bi | -53,56 Bi | 63,00 Bi |
BComl US$ | 17,9 Bi | 19,30 Bi | 15,22 Bi |
IED´s US$ | 55,00 Bi | 60,00 Bi | 60,00 Bi |
O quadro acima deixa evidente o quanto as projeções formuladas num ambiente de excessivo otimismo, ancoradas muitas das vezes, mais em anseios do que na realidade, podem afetar a visão mais crítica e cética que deve prevalecer neste contexto dando o peso correto às nossas fragilidades e capacidade de torná-las efetivas.
Palavras, discursos até empolgados, por si sós não implementam nada, demonstram tão somente a ansiedade. São necessárias atitudes claras e objetivas, aquela pequena coisa que faz enorme diferença, bem coordenadas por diálogos com os setores produtivos, comprometendo-os com os projetos de governo através de uma coordenação da gestão da política econômica não impositiva e não setorial.
A chave para o Brasil reencontrar o crescimento está centrada no INVESTIMENTO e na COMPETITIVIDADE, não podemos nos enganar pensando que conseguiremos a “reabilitação do crescimento” com a persistência do consumo estimulado à crédito, sob o risco acentuado de “bolhas”, que já emitem sinais preocupantes nos financiamentos de veículos e há também quem mencione, nos programas de casa própria do governo.
Acreditamos que os INVESTIMENTOS na melhor, possam representar em 2013, algo entre 18% e 19% do PIB, baixíssimo quando observamos Chile, Peru, Colômbia, México, etc.
Considerar infinita a geração do emprego é uma ousadia, pois se a economia não evidenciar crescimento, será inviável para o setor produtivo continuar retendo mão de obra qualificada e, poderemos ter sinais adversos neste segmento.
Enfim, o anseio pelo crescimento é grande, mas as nossas fragilidades são muitas e precisam ser mais bem avaliadas, pois incentivos fundamentais e reformas que o governo precisa gerar para o setor produtivo estão acima da sua capacidade atual.
No nosso mercado de câmbio o dólar fechou a R$ 2,045 com “aparência” de realmente valer R$ 2,10, não houvesse ocorrido contundente intervenção do governo, via BC, colocando lotes expressivos de operações conjugadas e “swaps cambiais” ao prazo de 90 dias.
A taxa cambial de final do ano tem impactos muito relevantes nos lucros do setor financeiro, inclusive do BC sobre o montante das reservas cambiais, e, pode também mitigar/atenuar as perdas, inclusive do setor privado eventualmente exposto a risco de variação cambial não “hedge”.
Os “players” do mercado “apostaram” na perspectiva de que em até 90 dias melhore o fluxo cambial para o Brasil, como consequência da readequação das medidas restritivas ao ingresso de recursos externos como ampliação dos prazos dos Pagamentos Antecipados as Exportações e redução do prazo para os Empréstimos Externos com incidência do IOF de 6%.
Dezembro teve um fluxo cambial que deixou bastante evidente a expressiva queda do fluxo cambial para o Brasil, tendo sido expressivamente negativo.
Nosso entendimento é que haverá uma melhora no fluxo cambial, provavelmente menos expressivo do que possa estar sendo projetado e, também que se concentre tão somente no 1º trimestre, pois no todo vemos o fluxo cambial para o Brasil em tendência de piora.
Os IED´s poderão se tornar uma excelente fonte de recursos externos, mas acreditamos que o governo precise rever suas regras de licitações para a infraestrutura. É importante não perder de vista que o investidor é focado no resultado possível da operação.
As operações de renda fixa ainda atraem, porém muito menos do que antes, hoje a atratividade é baixa.
A BMF&Bovespa vive um momento critico, perdeu 17 empresas em 2012 e conquistou somente 3, ao mesmo tempo em que conviveu com quedas expressivas nos seus principais papéis.
Corretores registraram relevantes prejuízos e discutem a viabilização do futuro. E ainda, paira um risco da NYSE procurar ter presença no mercado brasileiro. Não vemos razões para otimismos em relação a nossa Bovespa.
A crise internacional deve continuar afetando o crescimento global e isto afeta os preços das “commodities” agrícolas e metálicas, nosso carro forte nas exportações.
A Europa continua sem solução sustentável e assim deve perdurar o quadro em 2013.
A China deverá crescer menos, demandando menos insumos do mercado global, dado o seu modelo de crescimento ter como base as exportações.
Os Estados Unidos conseguiu que o Congresso aprovasse um projeto de lei “ao apagar das luzes” para evitar o temido “penhasco fiscal” protelando aumento de impostos e cortes profundos e generalizados de gastos. Resolve o curto prazo e deixa uma série de questões sem respostas.
O Presidente Obama afirmou que foi tão somente um passo dentro de um esforço mais amplo de fortalecimento da economia americana. E ainda destacou que o déficit americano é alto demais e que está aberto a discutir sua redução de forma equilibrada.
Como sempre, a repercussão dos mercados será muito maior do que o fato em si, mas o ajuste virá posteriormente.
O cenário “sem ilusões” que ousamos projetar para 2013 é um fluxo cambial bastante apertado para o Brasil, principalmente após o 1º trimestre, com o crescimento do PIB no entorno de 2,5% e dólar cotado ao final do ano em R$ 2,30 repercutindo a queda do fluxo cambial. Parece-nos também difícil que o governo consiga cumprir o superávit primário “cheio” de 3,1%.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO