Observando retrospectivamente o comportamento do preço da moeda americana no cenário externo ao longo do mês de novembro, com valorização de quase 7% em relação ao Euro e um pouco acima de 5% em relação a uma cesta de moedas…
Observando retrospectivamente o comportamento do preço da moeda americana no cenário externo ao longo do mês de novembro, com valorização de quase 7% em relação ao Euro e um pouco acima de 5% em relação a uma cesta de moedas reproduzida pelo Dollar Index, enquanto no Brasil elevou-se tão somente em torno de 0,7%, resulta extremamente carente de fundamento atribuir-se a queda que se acentua no preço local do dólar logo ao início dos negócios de hoje aos sinais de melhora do cenário global, ainda que não tenham sido atenuados os problemas dos países periféricos da zona do euro, que ocasiona uma discreta recuperação do Euro e da Libra ante a moeda americana.
Resistente e quase “indiferente” ao ambiente negativo prevalecente no cenário externo, quase inelástica dada a pequena oscilação ante comportamento bastante diverso no exterior, nos parece bastante evidente que a formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio está diretamente correlacionada não a fluxos cambiais, mas sim, aos posicionamentos de bancos, “hedge funds”, e alguns outros “players” nos mercados à vista, somente os bancos, e no futuro, todos.
Tudo indica que a “disputa” entre os detentores dos posicionamentos no mercado futuro, sem perder de vista o mercado à vista, onde os bancos detêm expressiva posição “vendida”, dará a tônica do comportamento do preço neste mês de dezembro, considerando a natural propensão à realização de resultados dada à chegada do final do ano, e mais, que a partir de janeiro já haverá “nova direção” na política monetária, fiscal, cambial, etc., embora com o personagem central, Ministro Mantega, sendo mantido.
Contudo, é importante notar que a mudança do critério de apuração da taxa PTax já é um sinal de novos tempos, pois deve eliminar substantivamente a capacidade de manipulação e artificialização do preço deste indicador a cada final de mês. Deixando de ser apurado por média ponderada, que enseja volume de giro no interbancário artificializado para elevar ou baixar a PTax resultante, passando a simples média aritmética de 4 tomadas de indicativos pontuais, com exclusões dos que sinalizarem distorção, a taxa resultará de menos disputas e mais fidedigna.
E como este é um mês operacionalmente curto, visto que normalmente vai forte na 1ª quinzena e perde volume na 2ª que envolve o período de Festas Natalinas, parece que os atores deste cenário envolvendo mercado de câmbio à vista e mercados futuros, envolvendo câmbio e juros, não pretendem perder tempo, e assim o mês tem início com pressão para apreciar o real.
Temos entendido que o governo tem o intervalo entre R$ 1,70 a R$ 1,75, como zona de conforto, mas não é improvável que estes pisos sejam testados momentaneamente, porém sem condições de sustentabilidade.
O grande questionamento pelo mercado e origem de muitas dúvidas é sobre a capacidade do novo governo reordenar a política monetária e fiscal e consequentemente “libertar” a política cambial da condição de “âncora coadjuvante” do controle inflacionário, mediante indução da apreciação sistêmica do real.
O Brasil está fechando o ano com um forte desgaste sobre a credibilidade de sua política fiscal. A meta de 3,1%, com a exclusão da Eletrobrás, não foi atingida até novembro que apontou 2,85%, a despeito de todas as manobras contábeis fartamente abordadas, que se expurgada só no quesito da Petrobrás reduziria este indicador para algo como 2%. Há exercícios mais drásticos por economistas, como o destacado por Alexandre Schwartsman, na edição de hoje do jornal O Estado, que reduzem este superávit primário para algo em torno de 1,2%. O superávit de R$ 99,1 Bi poderia ser bem melhor, considerando o fato da arrecadação federal ter crescido R$ 70,0 Bi no ano.
Este é um cenário preocupante e que gera incertezas, pois o novo governo certamente terá o Brasil crescendo menos em 2011, portanto, em tese, arrecadando menos e precisará realizar cortes extremamente substantivos nos gastos ou elevar tributos, o que seria desalentador para toda a economia.
Com esta complexidade prospectiva é muito difícil apontar-se tendência para o preço do dólar no nosso mercado no ano de 2011, visto que, quase sempre, o seu preço está menos alinhado a fatores externos e mais submisso a fatores internos.
Ademais, a percepção atual é de que em 2011 teremos uma elevação substantiva do déficit em transações correntes e os fluxos de financiamentos poderão não ser tão benignos.
No cenário externo sinais de melhora em indicadores da economia americana e também da China com dados mais fortes do que o esperado de manufatura, o mesmo ocorrendo em relação a Coréia do Sul e Índia, contribuem para aliviar dos mercados globais o “peso” do cenário nos países periféricos da zona do euro.
Bolsas retomam alinhamento positivo, o US$ cede um pouco ante o Euro valendo US$ 1,3080 e os T-Bills do tesouro americano indicam rentabilidade de 2,90%.
Em realidade o cenário econômico global não evidência tendências sustentáveis, por isso comportamentos mutantes são frequentes, visto que a questão central do emprego e renda ainda continua sendo o problema maior e os números de melhora são extremamente discretos.
Mas, a mutação da percepção da melhor ou pior situação deste ou daquele país tido como desenvolvido tem repercutido no comportamento da relação paritária entre suas moedas, o que fortalece que este é o fundamento prevalecente, que vem tirando gradativamente do cenário os questionamentos sobre a figurativa “guerra cambial”.