Análise do Mercado – 01/04/2011

O comportamento do mercado de câmbio ontem deixou algumas evidências que merecem ser consideradas como sinalizações importantes.
Inicialmente, a despeito de todo esforço realizado pelo BC com seus leilões de…

O comportamento do mercado de câmbio ontem deixou algumas evidências que merecem ser consideradas como sinalizações importantes.

Inicialmente, a despeito de todo esforço realizado pelo BC com seus leilões de compra a vista e, também, com oferta de “swaps cambiais reversos”, ficou clara a supremacia absoluta, neste momento, dos “players” posicionados “vendidos”, que impuseram, nos últimos dias do mês, uma nova rodada de apreciação do real.

Embora o preço da moeda americana tenha fechado com discreta recuperação de 0,12%, em torno de R$ 1,631, o objetivo do movimento desencadeado focava a taxa Ptax do encerramento do mês, e esta retroagiu ontem mais 0,45% ficando em 1,6287.

Iria a um preço mais baixo não fosse a intervenção do BC?

No nosso ponto de vista, não.

E isto ficou evidenciado pelo fato do mercado ter dado a entender que havia chegado ao ponto máximo de queda do preço para a moeda americana, razão pela qual demonstrou desinteresse nas ofertas de “swaps cambiais reversos” ofertados.

Entendesse que há viabilidade para uma apreciação mais intensa do real, certamente os “players” teriam interesse na oferta daquele instrumento financeiro. Contudo, a não aceitação deixou claro que a percepção é que não há, por isso a baixa demanda nos leilões ofertados.

Os interessados somente demonstram interesse nos “swaps cambiais reversos” quando sentem segurança de que há espaço para maior apreciação do real, já que não desejam correr risco de perda nas operações, caso ocorra uma valorização cambial maior do que o juro no período. A baixa aceitação é a sinalização de que não vislumbram uma queda maior no preço da moeda americana.

Como salientamos em nossas considerações anteriores, este movimento de apreciação do real no final do mês, afastando o preço do intervalo entre R$ 1,65 a R$ 1,67, foi extremamente pontual e não deve ser entendido como uma tendência, pois, certamente hoje, o preço da moeda americana já tenderá a buscar o preço no intervalo antecedente, com alguma volatilidade.

No nosso entender, o governo, pelo menos o BC, foca a manutenção do preço da moeda americana no entorno de R$ 1,65, provavelmente considerando este um ponto neutro, em que não agrega pressão inflacionária e ainda tem uma parcela contributiva para o controle da inflação. Isto ficou relativamente sinalizado no mais recente Relatório Trimestral de Inflação.

A partir de segunda-feira, dia 4 de abril, passam a vigorar os limites de posições “vendidas” dos bancos definidos normativamente em seus critérios, porém, certamente, todos já devem estar enquadrados, para que não fiquem obrigados ao recolhimento do depósito compulsório.

Continuamos com a forte convicção de que o BC/MF precisam ser mais rigorosos neste quesito posições “vendidas”. As autoridades monetárias deveriam limitar estas posições ao mínimo para atender as necessidades “transitórias e eventuais” dos bancos, tirando das mesmas características operacionais de captação de recursos externos de curto prazo, o que conflita com os propósitos da política monetária que vem sendo adotada pelo governo e acabam constituindo um canal, fácil e rápido, de irrigação de liquidez para o mercado financeiro, que acaba impulsionando o crédito ao consumo.

Quase imperceptível à grande maioria dos analistas, as posições “vendidas” são potencialmente mais eficazes na captação de recursos externos de curto prazo, do que os declarados empréstimos de curto prazo, que o governo acaba de tributar com IOF de 6% quando realizados até 360 dias. E, além disto, estas posições são indutoras à apreciação do real.

Urge então, que as autoridades fechem mais esta “janela” de ingresso de recursos de curto prazo oriundos do exterior, e, que ocorre de forma contundente, mas sem “ruídos”, pois não se revela diretamente como fluxo cambial.

Se o interesse do governo é conter a expansão da liquidez do mercado financeiro e provocar a retração da oferta de crédito ao consumo, não pode deixar de restringir ao extremo os limites para as posições “vendidas” no mercado de câmbio físico, por parte dos bancos.

Da mesma forma, ante a inquestionável certeza de que o país crescerá a um ritmo de pouco mais de 50% do que cresceu o ano passado, torna-se imperativo que, previdentemente, conceda incentivos e desonerações para a indústria exportadora não agrícola, de forma a oferecer-lhes alternativas para que prossigam com os investimentos e gerando empregos e renda, não deixando para tentar resolver o problema quando a crise já estiver instalada no setor.

Os dados recentes do IBGE demonstrando atividade industrial com avanço de 1,9% em fevereiro em relação a janeiro, na série com ajuste sazonal, maior desde março de 2010, que na comparação anual em relação a fevereiro de 2010 corresponde a expansão de 6,9%, certamente não se sustentarão com a retração do crescimento do PIB em 2011. Portanto, é necessário ter uma visão prospectiva rigorosa.

Nesta fase, em que o mercado financeiro tem uma atitude desafiadora ante a convicção das autoridades monetárias de que existem alternativas para conter a inflação que não seja somente a elevação do juro, não pode haver vacilos por parte do governo que deve estar na vanguarda e a coerência deve fazer parte do alinhamento das medidas, por isso apontamos, como imprescindíveis, a adoção imediata das duas medidas que preconizamos.

Portanto, ainda há o que as autoridades monetárias devem implementar!

Não esperamos novidades no preço da moeda americana. Gradativamente deve retornar ao intervalo entre R$ 1,65 a R$ 1,67.

No cenário externo, as incertezas perduram sendo as mesmas. O dramático problema do Japão e perspectivas ainda indefinidas sobre sua reorganização; problemas na Europa com os países periféricos e seus desequilíbrios fiscais; e a crise política que atinge os países com governos ditatoriais no Oriente Médio e África, com disputas de resultados incertos, mas que estão afetando o preço do petróleo, o que pode comprometer a recuperação das economias desenvolvidas abatidas pela crise de 2008, afora a propagação de inflação pela economia mundial.

A expectativa mais focada hoje envolve os dados do emprego nos Estados Unidos. A ADP, empresa processadora de folhas de pagamentos, apontou probabilidade de criação de 201 mil novos postos no setor privado, enquanto economistas estão projetando 180 mil e nível de desemprego em 8,9%.

O emprego na economia americana é um dado de absoluta relevância, visto que o PIB americano é dependente em 70% do consumo interno, que naturalmente é dependente de renda.

O petróleo continua batendo recordes. Preços para maio/11 fecharam ontem na Nymex acima de US$ 106,00 o barril do tipo light, enquanto em Londres, o tipo Brent superou, também para maio, o preço de US$ 117,00 o barril.

 

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