Já um pouco tardia, imaginávamos ter início na virada para o mês de agosto, a percepção dos “players” e analistas do mercado acentuam foco sobre a piora, dada suas convicções, das expectativas em torno do ambiente e tendências eleitorais focadas na sucessão presidencial.
Isto, consequentemente, afeta o humor e pode estar impulsionando de forma efetiva um movimento de “sell off” na Bovespa, num acentuado movimento de saída de investidores estrangeiros e posturas mais defensivas dos nacionais, ao mesmo tempo, em que, no primeiro momento psicologicamente, promove apreciação da moeda americana, o que não exigiria intervenção do BC, salvo se evidenciada aquecimento de demanda por proteção cambial, já substancialmente fornecida pela autoridade ao mercado, não acreditando que, no primeiro momento, seja necessária a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, tendo em vista que os bancos estão com um “colchão” de disponibilidades em dólares em torno de US$ 6,0 Bi, com base nos mais recentes dados divulgados.
Como temos salientado havendo movimentos típicos do mercado, o BC certamente deverá atuar, porém quando se tratar de fatores imponderáveis caberá tão somente observar, visto que eventual intervenção seria absolutamente ineficaz, e a autoridade tem plena consciência disto.
O fato concreto é que cresce a tendência de que candidatos não alinhados de forma peremptória com reformas sinalizem preferência popular, e, ainda que possa ocorrer o surgimento de forte tendência do PT ganhar corpo na disputa com a presença do vice Haddad ganhando força ao ser transformado a candidato principal, com o apoio do ex-Presidente Lula.
O “mercado”, assim entendido o todo dos envolvidos, parece ter menosprezado até então este novo cenário extremamente factível, na percepção atual, que confronta diretamente com a sua expectativa.
Por outro lado, a notória crise econômica que avassala o país cada vez se torna mais desafiadora e com menor grau de convicção de solução no curto/médio prazo e pode alongar expressivamente as perspectivas de quaisquer melhoras num horizonte de 3 ou 4 anos.
Crise fiscal cada vez mais agravada, queda nos investimentos, desemprego magnânimo, queda de renda e de consumo, e, sinais mais contundentes de retorno da inflação, que pode impor, contrariando a visão do “mercado”, impor elevação mais rápida da taxa SELIC.
As vendas no varejo recuaram 0,3% em junho e tem resultado pior que o esperado, e já não tem sustentabilidade atribuir-se tudo sempre e indefinidamente à greve dos caminhoneiros.
O IGP-M acumula inflação de 8,89% em 12 meses, na primeira prévia de agosto teve alta de 0,7% acima de junho que foi de 0,41%. No ano já acumula 6,66%.
A agência de rating S&P manteve a nota do Brasil em BB- com perspectiva estável aguardando as eleições. Não há ambiente no momento para melhora, contudo, pode haver para piora.
O Brasil está em contexto muitíssimo preocupante no campo econômico, e não menos e tão intenso no campo político, e, convive com um clima substantivo de insegurança jurídica.
Então, tudo denota que há elucubrações, ilações, discursos à margem da realidade perdem sustentação ante a percepção da realidade e dos riscos latentes em perspectiva.
No exterior, o IIF sinalizou que o Brasil é dos países que têm a situação fiscal mais preocupante.
A OMC sinaliza que o ambiente econômico global piora com a tensão comercial e que o comércio internacional sofre perda de ritmo.
A China salienta que as compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos cairão drasticamente com sanções, e este é um fato da maior relevância, visto que grande parte do crescimento de 4,1% registrado no PIB americano foi provocada pelo crescimento do agronegócio.
Nos Estados Unidos os preços ao consumidor subiram em julho, acentuando a perspectiva de elevação do juro pelo FED.
Enfim, o setor externo está envolvido por disputas anunciadas, sem que saibamos ainda os resultados efetivos porque demanda tempo a relação causa-efeito, porém causa muitos ruídos e o ambiente econômico acusa pela necessidade de aumento de precauções.
Mas, o Brasil neste momento está eivado de problemas contundentes de inúmeros vetores e deve ter o seu foco centrado em suas próprias mazelas ou como dizemos sempre, em suas questões intestinas, e olhar marginalmente no cenário externo.
Não há, a rigor, sustentabilidade nas projeções que vem sendo projetadas sobre as tendências da economia brasileira, mais contundentemente postas como medianas no Boletim FOCUS editado pelo BC e que reproduz a visão de mais de uma centena de instituições financeiras.
Aliás, seria de bom alvitre que o BC prospectasse também a visão do setor produtivo e os mixasse com as projeções do mercado financeiro, já que este talvez seja o único segmento a ser beneficiado pelo “status quo” instalado no país no momento.
Realismo é imperativo nos diagnósticos a respeito dos desafios presentes e visão com extrema acurácia sobre as efetivas possibilidades de superação no médio/longo prazo.
Em verdade, afora a retórica que vem sendo posta, não há antevisão dos programas efetivos de governo com os quais se comprometem os postuladores da sucessão presidencial.
Então, a nossa projeção para o preço da moeda americana é de R$ 3,80, porém o cenário projetando, em especial a possibilidade do crescimento do PT na sucessão, coloca pressão na formação deste preço, como já destacamos nas nossas abordagens anteriores, principalmente psicológica, e pode ganhar sustentabilidade acreditamos sem romper o teto de R$ 4,00.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO