Em câmbio o governo/BC não se deve, a rigor, antecipar suas ações e sim implementar a política que seja mais adequada para o momento.
Se o fez criando e anunciando programas de intervenção no mercado futuro com os instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais”, foi pela absoluta necessidade de fazê-lo explicitamente porque a moeda nacional ficou extremamente fragilizada e precisava ser ancorada por “hedge”. Então, foi dada a certeza pelo BC de que ofereceria de forma estável, com montantes declarados e calendário definido, aqueles instrumentos financeiros com os quais concedeu proteção às exposições em moeda estrangeira para os vários setores da economia brasileira, e conteve presumível desvalorização intensa da moeda nacional, que teria enormes repercussões negativas.
Um dos focos centrais propagados para o novo mandato da Presidenta Dilma tem sido a da mudança radical na condução da política fiscal, com enxugamento abrupto dos gastos, e o mercado tem convivido com a dúvida sobre o câmbio, sempre receoso que a alta da cotação exercerá pressão inflacionária ou que seja eventual, etc…
Nosso entendimento e que temos enfatizado já a muitos meses e quase que cotidianamente pós-eleições é que há absoluta necessidade da mudança da logística da política cambial como fator mais importante para que o novo governo consiga que o efeito ação-reação imediato mude as perspectivas de curtíssimo prazo.
No nosso ponto de vista é perfeitamente perceptível que a mudança da logística da política cambial já está em curso e a moeda americana já mudou de patamar de preço podendo ir um pouco além, já que os fundamentos negativos do nosso setor externo justificam plenamente o fato, que se fortalece com a necessidade de revitalização no curtíssimo prazo da atividade industrial do país e a necessária equalização das remunerações das commodities aos produtos, face os preços cadentes no mercado internacional.
O preço do dólar ajustado à sua realidade sem benesses, mas compatível com a realidade do país, porém ainda relativamente ancorado no estoque dos instrumentos financeiros “swaps cambiais” em poder do mercado, é a peça mais fundamental no curtíssimo prazo para proporcionar um choque na letargia da atividade econômica a partir do setor industrial, que acabará puxando os demais, e proporcionará ao mesmo tempo, como movimento natural das moedas ligadas a commodities, remuneração adequada aos produtores no momento em que os preços estão caindo no mercado internacional.
A declaração do Presidente Tombini do BC não teve nada para deixar as dúvidas que o mercado diz conviver. A rigor salientou que o programa de oferta de “swaps cambiais” não será expandido, mas mantido e rolado até que haja condições para a sua desmontagem gradual.
No nosso entendimento esta declaração deixa claro que o BC está integrado à nova logística da política cambial, pois permite a percepção de que deseja o dólar num patamar mais elevado, não se compromete a intervir, além disto, no mercado, mas é evidente que se necessidade houver atuará pontualmente e não com base num programa pré-estabelecido.
Está evidente pelos nossos números do setor externo extremamente negativos, o BC não tem condições de desmontar o estoque de “swaps cambiais” do qual ainda é refém dado o baixo fluxo de recursos externos líquidos para o país, que tem inúmeras evidências sendo a mais notória o montante das posições vendidas dos bancos no mercado de câmbio à vista ancorado em linhas de financiamentos, consequentes da geração de liquidez que proporcionam ao mercado dada a insuficiência de fluxos excedentes.
O desmonte somente será possível quando os fluxos cambiais líquidos positivos se intensificarem em concomitância com a reconquista da credibilidade pelo país.
O país registrará, novamente, este ano expressivo saldo negativo nas transações correntes em torno de US$ 85,0 Bi e para reduzi-lo como tendência precisa dinamizar a balança comercial que tende a fechar este ano com saldo negativo de US$ 4,0 Bi, afora outros dados na mesma linha negativa.
A indústria com o dólar com preço mais elevado ganhará competitividade no mercado internacional e, também, no mercado interno no confronto com os concorrentes importados que devem ter seus preços naturalmente elevados.
A indústria nacional retrocedeu este ano até outubro 3,0% amplamente desconstruída pela política cambial errática que retirou totalmente a sua competitividade e incentivou a presença dos produtos concorrentes importados.
Não acreditamos que o governo retome a utilização do preço do dólar como antídoto complementar ao juro no combate das pressões inflacionárias, que acabou desconstruindo a indústria nacional e o crescimento próximo de zero. Tudo leva a crer que teremos o dólar relativamente ajustado a sua efetiva realidade e o controle das pressões inflacionárias será contido pelo juro em sincronização com os efeitos impactantes da política fiscal rigorosa.
A elevação na reunião de ontem do COPOM da taxa SELIC em 0,50% elevando-a para 11,75%, a mais alta desde agosto de 2011 quando atingiu 12%, é uma clara evidência de que o governo busca ser diferente e que acredita que o impacto negativo da alta do juro na atividade econômica será menor que os benefícios da alta do dólar e os efeitos mais imediatos.
Enfim, o país precisa reverter o cenário do setor externo atualmente bastante desfavorável dada à baixa atratividade, que precisará ser recuperada não com promessas e boas intenções, mas com resultados restauradores de sua credibilidade a partir de ações mutantes bem executadas.
O Brasil ao longo deste ano até o mês de novembro recebeu ingressos financeiros da ordem de US$ 467,864 Bi, mas só conseguiu represar liquidamente US$ 1,118 Bi equivalente a 0,239%, havendo grande possibilidade de dezembro consolidar este fluxo liquido como negativo.
Nos ingressos comerciais o montante atingiu US$ 204,671 Bi com a obtenção até novembro de saldo positivo de US$ 3,645 Bi, equivalente a 1,781%, mas nos dados de balança comercial câmbio contratado e físico há um saldo líquido a pagar de US$ 3,336 Bi que se efetivado em dezembro poderá reduzir o saldo positivo atual.
Não descartamos a possibilidade de o país fechar o ano com fluxo cambial negativo, visto que no mês de dezembro se acentuam as saídas de recursos.
Os bancos fecharam novembro com posições vendidas no total de US$ 13,985 Bi, que tende a ampliar-se neste mês de dezembro, razão pela qual o BC já realizou ontem leilão de linha de financiamento de US$ 1,0 Bi, o que pode se repetir outras vezes ao longo do mês e se prestam a lastrear as posições vendidas dos bancos.
A política cambial já esta com a sua mudança em curso e conduzirá o preço do dólar a R$ 2,60 ao final do ano e pode ir além já no 1º trimestre de 2015 e não há nenhuma dúvida naquilo que o Presidente do BC Tombini declarou dias atrás, porém que ninguém espere aviso formal ou informal do governo/BC sobre esta mudança da logística da política cambial.