“Ação e reação” costumeiras no mercado de câmbio criam a convicção absoluta sobre a atitude que a autoridade monetária vai adotar, até porque são conhecidas suas limitações de interferência no contexto presente

É absolutamente equivocada a avaliação de que o preço da moeda americana tenha sofrido forte depreciação ontem, tão somente pelo fato do Banco Central do Brasil ter realizado um leilão de instrumentos financeiros denominados “swap cambial” de 20.000 contratos, dos quais colocou 12.700 contratos equivalentes a US$ 631,0 M.

Também são exacerbados os créditos dados aos números do comércio exterior chinês, que revelou melhora após 6 meses de desaceleração. Importações revelaram crescimento anual, base julho de 10,9% ante 0,7% verificado base junho, enquanto as exportações nos mesmos parâmetros cresceram 5,1% e 3,1% respectivamente. É um dado anualizado e todos sabem que a economia chinesa vem perdendo nível de atividade o que sugere crescimento neste ano entre 7% a 7,3%. O fato sugere tão somente uma perspectiva melhor, embora, devamos considerar que o país vinha crescendo próximo de 8% atrelado ao modelo exportador e as exportações cresceram somente 5,1%, ou seja, abaixo do crescimento do PIB do qual é a força motriz.

Devemos considerar que o fato pode sugerir uma melhora prospectiva, mas não gerará divisas de imediato para o Brasil, e a realidade é que o Brasil tem necessidade premente de melhora do fluxo no curtíssimo prazo.

Da mesma forma, a reação da Bovespa foi excessiva, pois só houve um sinal em perspectiva de uma incerta recuperação de dinamismo da China e outros mercados ancorados em suas exportações nas “commodities” não reagiram, como Austrália e a própria bolsa de Shangai, que operaram em baixa ontem, enquanto as bolsas asiáticas, europeias e americanas repercutiram positivamente, contudo sem enorme euforia.

É preciso considerar que a alta foi puxada pelos papéis da Vale, que acabara de anunciar uma queda de 84% nos seus lucros no 2º trimestre, Petrobrás e pela sempre volátil OGX, que subiu 9,26%. A alta de 3,12% deve ser considerada com moderação.

Na realidade, o que ocorre no nosso mercado de câmbio é que há posicionamentos comprados fortes no mercado futuro de dólar/derivativos e que estão sempre atentos aos ganhos de oportunidade, comportamento típico de especuladores.

Na quarta-feira, o mercado de câmbio, que convive com baixíssima liquidez no segmento à vista, sofreu forte pressão altista e não houve interferência do BC, nem com a oferta de linhas de financiamentos no mercado de dólar efetivo, à vista, e nem no mercado futuro/derivativos, com instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais”, que não são dólares efetivos, mas sim como dito instrumentos financeiros que se prestam a proteger passivos em moeda estrangeira e são liquidáveis por diferença em reais.

Sabidamente, o dólar a R$ 2,31 incomoda o governo e era tido como certa a interferência do BC no mercado de câmbio ontem, com o seu habitual leilão de “swaps cambiais”.

Este cenário de “ação e reação” conhecidas cria um ambiente propício para os especuladores posicionados “comprados” realizarem ganhos rápidos.

Desta forma, antes que o BC anunciasse o seu leilão de “swaps cambiais”, os “comprados” na BM&FBovespa iniciaram uma rápida e parcial venda de seus volumosos posicionamentos, realizaram ganho e puseram o preço da moeda americana em linha de depreciação.

O BC quando chegou com o seu leilão já encontrou o preço da moeda estrangeira com viés de baixa e o mercado já não tão sequioso de aquisição dos “swaps cambiais”, pois dos 20.000 contratos ofertados absorveu 12.600 contratos e ao que consta, pagou mais caro desta vez.

O preço do dólar caiu abaixo de R$ 2,28 e ao final do dia já demonstrou que vai recuperar preço.

Foi algo absolutamente pontual motivado pelo oportunismo dos “comprados” no mercado futuro/derivativos, que certamente reconduzirão o preço da moeda americana para o entorno de R$ 2,30, de forma lenta considerando que certamente recomporão suas posições e é do interesse que seja a preço baixo.

As outras razões e causas serviram de pano de fundo para justificar a apreciação do real, mas, em realidade, nenhum deles tinha potencial para provocar a queda ocorrida no preço do dólar.

Como temos salientado, há uma enorme possibilidade de se encontrar fatores e causas para a alta do preço do dólar, mas após transitar pela visão sobre o externo e o interno, resta a realidade: ESTÁ COMEÇANDO A FALTAR DÓLARES, AGORA TAMBÉM, NO MERCADO À VISTA!!!!

Então, temos pressões menos intensas e espalhafatosas no mercado futuro por proteção e temos pressões se acentuando no mercado à vista. E, notoriamente, existem posições especulativas compradas no mercado futuro que não deixam passar oportunidades para maximizar ganhos e com isto provocam oscilações, por vezes, bruscas, que contudo não devem ser entendidas como reversão de tendência do preço da moeda americana.

No mercado futuro o BC vem fazendo o seu possível, resta saber quem vai dar a liquidez no mercado à vista, aquele segmento que precisa de dólar efetivo, moeda mesmo!

O próximo passo será o BC ofertar as linhas de financiamentos em dólares, através das operações de venda e recompra futura para os bancos.

Esta ação será indutora a que passem a operar com posições vendidas, que também podem ser ancoradas por linhas de banqueiros externos.

Estariam os bancos dispostos a serem os geradores da liquidez, com a adoção de posições vendidas no mercado à vista, ante um cenário prospectivo adverso para o fluxo cambial para o Brasil?

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