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A transição da demanda no “futuro” para o “à vista” ganha evidência

Faz algum tempo que vimos destacando que o excesso de oferta de “swaps cambiais”, por parte do BC, era o efetivo motivo da apreciação exagerada do real ante o dólar.

 Em contrapartida, não atribuíamos ao fluxo cambial, como amplamente alardeado, a causa desta ocorrência tendo em vista que o saldo líquido positivo de ingressos no ano era efetivamente muito modesto, ao apontar até a semana passada tão somente US$ 3,365 Bi (US$ 287,243 Bi menos US$ 283,878 Bi), insuficiente para fazer face às posições vendidas registradas pelos bancos migradas de 2013 para 2014 no montante de US$ 18,124 Bi e que atualmente apontam US$ 15,054 Bi, que é o montante de fluxo ainda carente para o país e que está sendo suportado pelos bancos em posições vendidas (à descoberto) com lastro concedido em sua maioria pela própria autoridade brasileira e por bancos estrangeiros. Este montante de posições vendidas já corresponde a algo em torno de 4% das reservas cambiais brasileiras.

Então, enquanto não sanada esta insuficiência de fluxo presente de US$ 15,054 Bi, não há o que falar sobre influência do fluxo cambial na depreciação do preço do real.

A intervenção do BC com oferta de “swaps cambiais” num momento em que ocorriam ingressos foi valiosa para o seu intento de manter o real apreciado como coadjuvante à taxa SELIC para combate às pressões inflacionárias, até porque não havia oposição dos bancos, confortáveis com suas “posições vendidas” em contexto favorável para arbitragens.

Contudo, desde abril foram se acentuando os sinais de que a demanda por “swaps cambiais” perdia força no mercado futuro, consequente da retração nos ingressos, o que ficou evidenciado no resultado líquido negativo do fluxo cambial financeiro de abril e que teve continuidade no mês de maio.

Então, não nos parece correto considerar que tem havido menor intervenção do BC no mercado, como se dele tivesse sido a decisão. No nosso ponto de vista, o BC deixou de rolar US$ 2,233 Bi da posição de abril e mais US$ 4,6 Bi da posição de maio e provavelmente rolará parte menor ainda a posição vincenda em 1º de julho de US$ 10,060 Bi, porque não há demanda.

No nosso ponto de vista há um consistente viés de tendência de recrudescimento de fluxos cambiais positivos líquidos para o país. E este cenário prospectivo envolve a saída de grande parte dos capitais especulativos ingressados no país ao longo do 1º quadrimestre, o que determinará a não demanda de “swaps cambiais” nas rolagens, e, também com menor volume de ingressos de recursos ocorre o natural arrefecimento da busca de “hedge”.

Então, o que se presencia neste momento é a transição da demanda que havia por “swaps cambiais” no mercado futuro, para o crescimento da demanda por dólares efetivos no mercado à vista, ou seja, o instrumento de intervenção que vinha sendo utilizado pelo BC até então está se fragilizando e perdendo eficácia, sendo que o deslocamento da pressão de alta do preço da moeda americana passa a se centrar no mercado à vista, e neste, o que resolve é oferta direta de dólares ao mercado pelo BC retirando-os definitivamente das reservas cambiais brasileiras ou a ampliação das posições vendidas dos bancos para que gerem liquidez, amparadas por linhas de financiamento em moeda americana concedidas pelo próprio BC a partir da retirada temporária das reservas cambiais brasileiras ou por bancos estrangeiros.

Esta ampliação de posições vendidas requer alguns cuidados por parte dos bancos, tendo em vista que o país estará convivendo com um ambiente de fluxos cambiais insuficientes. É conveniente que o doador das linhas de financiamento seja prioritariamente a autoridade monetária brasileira que não as exigirá em ambiente desfavorável, evitando assim riscos de surpresas com a descontinuidade de linhas concedidas que poderá ocorrer por parte dos bancos estrangeiros, e ainda, que haja condições para arbitragens entre os custos destas linhas e a rentabilidade do cupom cambial, caso contrário não haverá interesse.

O BC deverá evitar ao máximo ter que vender dólares à vista ao mercado, tendo em vista que daria muita transparência a falta de fluxos cambiais positivos para o país, podendo, motivar movimento especulativo sobre o real.

O contexto do nosso mercado de câmbio está mudando e isto impõe que o BC altere sua estratégia de intervenção, mas há condicionantes que podem tornar mais árdua esta tarefa a ponto de ser incontrolável em certos momentos a apreciação da moeda americana.

O Boletim FOCUS do ultimo dia 30, divulgado ontem, manteve a projeção do IPCA-2014 em 6,47%, mas reduziu a projeção para o PIB para 1,50% e a produção industrial para 1,24%. Com o preço do dólar pressionando a inflação poderá passar do teto da meta. Já há projeções mais rigorosas indicando crescimento do PIB em 1,20% e a produção industrial abaixo de 1%.

Maio aprofundou a contração da atividade industrial brasileira que atingiu o pior nível em 10 meses, com quedas nos volumes de novos pedidos e de produção.

A alta do preço da moeda americana nesta fase do ano, onde já se pontifica o desanimo dos empresários e a retração do consumo, pode não contribuir para o soerguimento da indústria e nem otimismos ao setor exportador. O ambiente no meio empresarial indica que há um sentimento de que nada mais deve ser feito em 2014, enquanto o inexpressivo crescimento do PIB no 1º trimestre, com tendência de ser pior no 1º trimestre, reforça a ideia de fim de linha do consumo estimulado a crédito e a expansão da força de trabalho, esta já corroída em parte pela inflação forte nos preços livres.

Junho tende a dar mais transparência ao “status quo” da economia do país neste momento que sabidamente não é bom e não sugere perspectivas melhores.

A alta do preço da moeda americana hoje veio em linha com a realidade em torno da nossa moeda, podendo ir além e tornar-se mais expressiva em seu ajuste nos próximos dias.

E, nem poderá ser atribuída ao “acompanhamento do setor externo”, pois a moeda brasileira foi desvalorizada 3 vezes ou mais no confronto com as demais moedas frágeis pertencentes a países emergentes e vulneráveis, como por exemplo a lira turca.

 

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