Há um grande anseio que a economia brasileira deslanche recuperando-se assim do fiasco de 2012, mas a convicção, fora do contexto dos discursos, sinaliza que o otimismo esta sucumbindo ante a reversão forte das expectativas.
Ao que tudo indica, a política econômica do governo está precisando de um fato efetivamente novo, um choque de confiança e encorajador, menos discursos e mais ações efetivas, para evitar que ocorra perda de credibilidade maior. Enfim, um “mudar o jogo” que motive os setores produtivos a retomarem investimentos focando o aumento da oferta. E, na margem recupere a atratividade do país para os investidores estrangeiros.
Um BNDES mais focado em financiar as pequenas e médias empresas, menos paternalista com os grandes conglomerados brasileiros que poderiam continuar recebendo financiamentos, mas não sem a obrigação de captarem recursos de longo prazo no setor privado nacional ou internacional.
Tirar das gavetas e das intenções as reformas tributárias e trabalhistas, alinhando-as com os propósitos do país, que almeja o crescimento sustentável, evitando conceder benefícios setoriais e temporários, por vezes forçados habilmente por lobistas, que não permitem decisões empresariais, por serem temporárias, e não induzirem as mesmas ao investimento, mas sim, tão somente, a colher os resultados das medidas que os beneficiam pontualmente.
É preciso desonerar o todo da economia de forma definitiva e horizontal, para que ocorra o planejamento de médio e longo prazo das empresas para que possam investir.
O governo precisa compartilhar suas decisões com o setor privado, discuti-las previamente ajustando-as de forma a motivá-lo e, ao mesmo tempo, comprometê-lo com as mesmas.
E, por fim, gastar menos e com qualidade, retomando de forma incontestável o rigor fiscal, com foco a ter capacidade de aumentar os investimentos públicos.
Algo nesta linha seria encorajador, sem duvida, e se constituiria num fato novo.
Política focando o curto prazo não motiva o setor privado ao investimento, primeiro por não permitir planejamento, segundo por ter baixa credibilidade, consequência da característica fortemente mutante de regras por parte do governo.
O grande fator para que o país cresça de forma sustentável é o incremento dos investimentos, que promoverá o aumento da oferta e o aumento da competitividade.
No momento temos excesso de tributos; política trabalhista onerosa às empresas; governo gastando muito sem foco nos investimentos; algumas práticas não bem aceitas para assegurar superávit primário; excesso de intervenção do governo na economia; política monetária heterodoxa com intervenção na taxa cambial, etc…
Este contexto trava o desenvolvimento e os investimentos do setor privado, ao mesmo tempo em que tira atratividade do país para o investidor externo.
A oferta fica fragilizada e conflita com a política do governo de estimular o consumo com crédito, o que por si só é inflacionário.
A utilização do preço do dólar depreciado para conter pressão inflacionária tira do país potencial exportador, promove a desindustrialização e tende a causar mais malefícios do que benefícios, visto que o “carro chefe” da inflação é o item serviços, insensível ao preço da moeda americana.
O “conjunto da obra” não sugere a redenção do crescimento econômico sustentável e assim perdemos atratividade perante os investidores estrangeiros, e isto repercute, em conjunto com a fragilização da capacidade exportadora, no fluxo cambial que passa a apresentar consistente tendência ao negativo.
Evidentemente, que fluxo cambial desfavorável tende a inviabilizar ou exigir um esforço extremo do BC, sem que se afaste a possibilidade de volatilidade, para que utilize o preço do dólar depreciado por muito tempo visando conter pressão inflacionária.
O mercado de câmbio como todos demais têm seus princípios e “forças” próprias, e tudo que se pode projetar prospectivamente sugere dólar em alta.
É preciso relembrar que estamos vivendo um período de fluxo cambial negativo e com propensão à continuidade, bem diferente do cenário prevalecente quando o dólar foi facilmente “empurrado” para uma depreciação recorde, pois o fluxo cambial era amplamente positivo e o mercado de derivativos operava e especulava à larga.
Por isso, nos parece distante dos fundamentos de formação do preço do câmbio projeções de maior apreciação do real, pois o BC pode operar e intervir induzindo este comportamento, mas não pode tudo, pois o mercado e suas forças próprias obviamente estarão em oposição a este propósito no contexto atual.