As hipóteses condicionantes, para que o FED americano possa precisar melhor a redução e/ou término do seu programa de incentivo monetário, são tantas, que provavelmente, só serão alcançadas quando Ben Bernanke já não seja o Presidente do organismo. Até a hipótese de passar por uma elevação do volume de compras mensais, caso esteja presente sinalizações de deflação, não está descartada.
Nada de novo, um tom absolutamente “dovish”. Tudo leva a crer que a economia americana que se recupera em ritmo moderado, nas palavras de Bernanke, ainda levará um bom tempo para atender às condicionantes postas antes de se vislumbrar efetiva possibilidade de redução do programa de incentivo monetário, que poderá ser reformulado, mas que certamente não terá fim, devendo passar a um contexto acomodativo, como tem sido ressaltado frequentemente.
Tudo tão normal por parte do FED, que os inúmeros segmentos do mercado financeiro americano desta vez não demonstraram mais aquela entusiástica euforia contumaz das vezes antecedentes.
Efeito correlato, o dólar americano fragilizou-se frente às moedas emergentes e as consideradas fortes. O quanto não é simétrico, pois todos os países têm situações típicas que favorecem ou conspiram contra os movimentos de valorização ou não de suas moedas.
Após a fala de Bernanke, o Dollar Index apresentou discreta alta e o “yeld” para os T-Bills de 10 anos a curva convergiu de 2,53% para 2,48%, sinalizando valorização dos títulos, consequente da permanência da liquidez.
Hoje, logo pela manhã, na abertura dos negócios, o Dollar Index sinalizava alta de 0,10%. O real tinha sinalização de abertura se depreciando 0,64% frente ao dólar com preço acima de R$ 2,24 e o dólar se valorizando frente ao euro 0,15% cotado a US$ 1,3108.
A formação do preço da moeda brasileira está muito condicionada ao contexto interno do país, e, quase insensível à liquidez internacional, visto que não há perspectiva de que ocorram melhora de fluxos de recursos externos mesmo com a nova perspectiva em relação à continuidade do programa de incentivo monetário americano pelo FED.
O real desde segunda-feira, quando sofreu forte apreciação, vem mantendo comportamento como efeito “gangorra”, típico de movimento especulativo presente. Os próprios “players” comprados vem orquestrando esta dinâmica.
Hoje, em tese, seria o dia da alta, por isso o BC já anunciou ontem leilão de “swap cambial” para hoje, aparentemente desnecessário pelo cenário de ontem, mas importante para interferir neste movimento e criar insegurança para os especuladores. Mas não acreditamos que consiga grande sucesso para conter o viés de alta.
É enganoso imaginar o movimento de apreciação do real como alinhado com as perspectivas de melhora de fluxo de recursos para o país, devido a liquidez internacional permanecer por prazo mais longo.
É puro movimento especulativo no mercado futuro, com ações locais e vasos comunicantes com o exterior. Ressalta-se que estes movimentos impactantes no preço da moeda americana ocorrem, o que é pior, sem que haja fluxo de recursos externos para o país.
Longe disto, os fluxos líquidos para o Brasil continuam sendo confirmados negativos, e, as perspectivas seguem na mesma linha. Até o último dia 12 deste mês está negativo em US$ 1,1 Bi.
O Presidente da AEB declarou ontem que tudo leva a crer que a balança comercial brasileira em 2013 fechará negativa. O mercado ainda trabalha com a projeção de um pequeno superávit, mas não se pode desconsiderar a colocação feita pelo representante dos exportadores.
Representante do Oppenheimer Funds declarou ontem, ratificando o sentimento predominante, que a visão conceitual do Brasil no exterior é péssima.
Enfim, fica uma falsa impressão de que os acontecimentos no entorno das manifestações do FED americano criam cenários intensificadores de fluxos de recursos externos para o Brasil, e assim, o real sofre apreciação em face desta expectativa.
Mas, na realidade nada tem a ver, os especuladores só se aproveitam do pressuposto, que, contudo, não é efetivo.
O único fato novo positivo no momento é o sinal de que a inflação deve arrefecer neste mês e provavelmente em agosto.
Porém, é temeroso que o preço do dólar em alta possa ser o vilão que venha a prejudicar este comportamento, visto que a participação de insumo e bens de consumo importados é bastante expressiva na nossa economia.
O Copom sinaliza em sua ata a continuidade do aperto monetário para conter as pressões inflacionárias, porém, o cenário prospectivo para o preço da moeda americana pode anular parte ou o todo deste esforço.
A despeito da ênfase do discurso da Presidenta Dilma, que chamou para si a responsabilidade pela política econômica, notoriamente a inflação ainda não está sob controle, por isso é necessário elevar a Selic e nem a política fiscal está confortável, pois são notórios os ajustes atípicos que vem sendo realizados.
O problema do fluxo de recursos externos para o país é algo preocupante, a despeito da existência de reservas cambiais, pois se o governo precisar utilizá-las poderá motivar um movimento especulativo sobre o real, em face desta evidência da fragilidade.
O viés do preço da moeda americana é absolutamente de alta, fundamentada e sustentável.