A ausência de atitude mais contundente por parte do governo, perante o problema inflacionário que se faz presente na economia brasileira, deixa evidente que há constrangimentos de ordem política e isto pode estar provocando retardamento temeroso na adoção das medidas cabíveis, o que pode tornar irreversível o quadro dado o seu agravamento gradual.
Caso o IPCA de março venha a se confirmar em
A ausência de atitude mais contundente por parte do governo, perante o problema inflacionário que se faz presente na economia brasileira, deixa evidente que há constrangimentos de ordem política e isto pode estar provocando retardamento temeroso na adoção das medidas cabíveis, o que pode tornar irreversível o quadro dado o seu agravamento gradual.
Caso o IPCA de março venha a se confirmar em 0,50% como prognosticado pelo Boletim FOCUS, o acumulado em 12 meses ultrapassará com folga o teto máximo da meta de inflação, sugerindo que mudanças sejam tomadas com urgência.
Mas como aumentar o juro num ambiente que revelou a indústria em queda de 2,5% na produção entre fevereiro e janeiro passados, e que ainda assim, os bens de capital tenham avançado 13,3% no bimestre puxando o investimento. Aumentar o juro seria uma ducha de agua fria sobre os dois aspectos.
A retórica do governo tem sido a de observar mais e agir menos, com muito cuidado para que na busca de conter a inflação não dê um golpe fatal nas ambições acerca do crescimento. Por isso, prevalecem os atalhos e acertos com concessões pontuais, tecendo gradualmente uma impressionante colcha de retalhos, nem sempre com resultados satisfatórios pelos supostos beneficiários.
Esta postura provoca inquietação e volatilidade no mercado de juro, que num dado momento, a partir de uma fala aqui ou acolá, ganha convicção de que a SELIC será elevada, e noutro momento, perde esta convicção de que isto ocorra no curtíssimo prazo.
Incertezas inibem investimentos, e este é o fator básico e determinante para que o país retome ritmo de crescimento. E assim, já “gastamos” um trimestre do ano.
Dizer-se que o governo abandonou a estratégia de apreciação do real como instrumento de contenção das pressões inflacionárias, não nos parece correto.
O real, certamente, estaria valendo menos no atual quadro e suas circunstâncias. Temos fluxo cambial extremamente fragilizado neste ano e com poucas possibilidades de reversão deste quadro, o que é preocupante e fomentador de depreciação do real face à relevância do déficit em transações correntes que precisaremos saldar.
Naturalmente, temos nossas reservas cambiais, mas utilizá-las se necessário for permitirá que se cumpram os compromissos, mas de toda forma não deixará de sinalizar que o país já não atrai capitais estrangeiros como ocorria num passado recente, mais pela benesse da rentabilidade oferecida do que por nossas virtudes efetivas ou auto assumidas, pois o mundo global está muito atento as nossas fragilidades estruturais, sem perder de vista a nossa condução da política fiscal.
Sabidamente, outras economias emergentes evidenciam estar logrando maior sucesso com suas políticas econômicas, criando consequentemente maior grau de atratividade e passando a concorrer com vantagem no direcionamento dos investimentos internacionais.
O contexto cambial atual evidencia que o fluxo cambial, até 22 de março ultimo, estava negativo no ano US$ 2,2 Bi, quando no ano passado no mesmo período estava positivo em US$ 18,5 Bi, e temos os bancos autorizados a operar em câmbio com posições “vendidas” no mercado à vista em torno de US$ 8,2 Bi até aquela mesma data base, e que estão sendo suportadas pela utilização de linhas de crédito externas.
Não seria exagero termos uma taxa cambial neste momento de R$ 2,10, consideramos que seria absolutamente normal e compatível. Portanto, com o preço no entorno de R$ 2,02/2,03 ainda consideramos o real apreciado. Evidentemente não está mais no R$ 1,95 porque não há condições para que esteja e o BC só tem conseguido mantê-lo neste parâmetro resistente de R$ 2,02 com “swaps cambiais” por ainda ter a parceria dos bancos, que estando “vendidos” vão se valendo destas ofertas de “swaps cambiais” para cobrir com “hedge” suas exposições, mas, a rigor, acreditamos já seja bastante baixa a propensão a elevarem mais as suas posições “vendidas”, visto estar muito evidente que são baixas as perspectivas de recuperação do fluxo cambial, que lhes permitiria cobertura posteriormente.
A tendência que temos em perspectiva é que, salvo inesperada melhora do fluxo, tornar-se-á inevitável que o BC realize venda de dólares à vista para o mercado, evitando assim uma pressão mais contundente altista.
Com este ambiente desfavorável no cenário cambial torna-se cada vez mais difícil ao BC fazer uso do preço do dólar depreciado como instrumento contributivo à contenção das pressões inflacionárias e, ao tentar buscar isto sem ser objetivamente com a oferta de dólares efetivos e à vista para o mercado, poderemos ter um ambiente com muita volatilidade.
Fragilizado o instrumento dólar para conter a inflação, a opção imediata seria a elevação da taxa SELIC, decisão sobre a qual o governo parece relutante dado o custo politico, o que o faz ficar buscando atalhos de maturação muito lenta e pontual.
A receita parece estar no poema de Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”!