O sentimento é que o país está sem tração e com um processo inflacionário que está levando os empresários nacionais à reflexão, inibindo investimentos, fomentando as importações e colocando a indústria nacional num processo de inanição, cada vez mais perdendo participação no mercado interno e externo.
Grupo de elite de economistas participou recentemente de discussão sobre o tema: “Por que o Brasil não cresce?”, promovido pelo jornal Valor Econômico. Os diagnósticos apresentados, embora com algumas diferenças, não fugiu da recolocação em pauta de velhos e conhecidos problemas na infraestrutura arcaica do país e a falta de investimentos.
A FIESP patrocinou estudo, base 2010, abordando os indicadores de desempenho da infraestrutura de transportes nacional confrontando-os com os melhores níveis praticados pelos nossos competidores internacionais, divulgado ontem pelos jornais televisivos e hoje pelos impressos. A resultante em dados nos distancia muito da condição de emergente e nos coloca plenamente como subdesenvolvido. Resumir que a logística do país tem 33% do desempenho dos competidores é até um ato de benevolência.
O estudo revela que o frete rodoviário de US$ 51,75 por mil toneladas/km no Brasil é 270% maior que a média de excelência mundial de US$ 14,00, e, devemos considerar as condições de precariedade das nossas rodovias e de acessos aos portos, que podem retardar embarques ou desembarques em prazos inaceitáveis.
A FIESP apresentará oficialmente hoje o estudo.
O “conjunto da obra” explica e expõe como o país ficou parado no tempo, com rodovias, hidrovias, ferrovias, portos e aeroportos altamente defasados, custos altos, etc. e tudo isto retira competitividade e desenvolvimento do país.
Como se vê o crescimento sustentável depende de muito mais que as desonerações daqui e dali, que na realidade precisam abranger toda a economia horizontalmente, mas o país precisa ter toda a sua infraestrutura logística reconstruída e isto requer expressivos investimentos e longos anos.
Também fica evidente que o aumento da nossa capacidade exportadora, hoje algo em torno de 1,0% em relação à exportação mundial, não depende só do preço do dólar, que poderia mascarar estas deficiências, e também não só de investimentos dos empresários nos seus negócios.
Não é difícil saber por que o país não cresce, há evidências que auto explicam e respondem esta questão.
E, agora, temos o retorno das pressões inflacionárias!
Enfim, a realidade é que isto tudo impacta no fluxo cambial para o país, que ao tempo do juro elevadíssimo e incompatível atraia muito capital especulativo o que não deixava ser percebidos os nossos problemas maiores de infraestrutura, e crescíamos fomentados pela abertura do crédito as classes mais baixas que assim teve acesso ao consumo, o que por sua vez exauriu a capacidade ociosa que existia na indústria nacional.
A indústria nacional não investiu o necessário, provavelmente por entender que era uma “onda de consumo temporária”, e assim, a importação passou a fazer a suplementação da demanda interna e com a concorrência de preços acabou, também, por substituir o produto nacional.
Fatores diversos internos, afora o acirramento da concorrência internacional devido à crise, nos tiram a capacidade exportadora, nos retroagindo a exportadores de produtos primários, e, é crescente a nossa necessidade de importar para suprir a demanda interna.
Nossa balança comercial está se fragilizando, a expectativa é que este ano proporcione tão somente US$ 10,0 Bi como superávit, afora existirem muitas dúvidas sobre os registros das importações de petróleo pela Petrobrás.
Temos bloqueios para os capitais estrangeiros de curto prazo e para operações especulativas no mercado de derivativos, o que contém os fluxos de recursos oportunistas para o país.
Para os recursos de médio e longo prazos já não temos a mesma atratividade que detivemos num passado recente, há inúmeras economias emergentes com perspectivas melhores e que têm tido a preferência dos investidores estrangeiros.
Para alguns prazos mais longos que poderiam convergir para o financiamento da nossa infraestrutura há carência de “hedge”.
Os IED´s estão estimados em US$ 60,0 Bi este ano e é necessário que seja alcançado, pois a somatória deste montante com o superávit da balança comercial de US$ 10,0 Bi está justíssimo com a previsão de déficit em transações correntes para este ano, que é de US$ 70,0 Bi.
O fluxo financeiro para o país precisa melhorar, e bem, com certa urgência.
O país tem reservas cambiais suficientes para fazer face às suas necessidades se não conseguir os níveis de financiamento externo para o ano, mas, embora criada para estas circunstâncias, a sua utilização será uma evidência muito clara de perda de fluxo cambial.
Este contexto, complexo e sem solução de curto prazo, é indutor de alta no preço da moeda americana, num momento em que o governo o deseja mais contido, aparentemente abaixo de R$ 2,00, para que não exerça pressão inflacionária.
No nosso entender, o preço atual gravita em torno de R$ 2,00, mas há muitas incertezas sobre a sustentabilidade deste preço, e identificamos que, tecnicamente, e considerando os fundamentos da formação de preço do mercado flutuante, o viés é de alta.
Contudo, o governo tem opções para buscar administrar o preço, porém não será somente ofertando “swaps cambiais” que resolverá a questão.