William Dudley, Presidente do FED New York, declarou que a recuperação da economia americana ainda não é forte o suficiente para convencê-lo de que seja a hora de corte no programa de estímulo do Federal Reserve americano.
Em discurso ontem, Dudley listou vários riscos importantes nos próximos meses: aumento das taxas de hipotecas, que já afetou a dinâmica da recuperação do mercado de habitações; insegurança nos consumidores e empresas que estão hesitantes em gastar; comércio internacional que ainda mostra poucos sinais de recuperação, e o orçamento federal e debates sobre o teto da dívida no Congresso, certamente conspiram contra a intenção de reduzir o programa.
Em síntese, Dudley considera que o conjunto de fatores não cria perspectivas favoráveis e suficientes para o FED começar a desacelerar seu programa de compra de títulos, que atualmente envolve a compra de US$ 85,0 Bi em títulos do Tesouro Nacional e títulos lastreados em hipotecas cada mês.
Enfatizou: “Eu gostaria de ver notícias econômicas que me deixem mais confiante de que veremos uma melhoria contínua no mercado de trabalho”.
Foi mais uma opinião fortalecendo a percepção de que há o entendimento crescente de que o programa de estímulo monetário pode precisar ir além do anunciado anteriormente pelo Presidente Bernanke, pois a economia americana ainda não estaria pronta e os danos poderiam impactar sobre as conquistas e interferir nas melhoras objetivas.
Mas, não foi só a fala de Dudley que causou repercussões.
Dennis Lockhart, Presidente do FED Atlanta, também enfatizou que será difícil o FED dar início a redução do programa de incentivo monetário a partir de outubro próximo.
Mário Draghi, Presidente do BCE, afirmou que a instituição está pronta para lançar a terceira rodada de Operações de Refinanciamento de Longo Prazo, se necessário. Os comentários de Draghi foram feitos durante o discurso sobre a economia, perante o Comitê para Assuntos Monetários e Econômicos, em Bruxelas.
Gradativamente vai crescendo a ideia de que os programas de incentivo a retomada da atividade econômica, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, podem ir além do previsto prevalecendo, portanto, a liquidez abundante no mercado global.
Inegavelmente que haverá, caso se confirme, um desgaste para o FED americano cujo presidente pré-anunciou o desarme do programa estabelecendo inclusive em torno de quando deveria ser iniciado.
Esta nova perspectiva naturalmente fragiliza o dólar perante as demais moedas fortes e as moedas emergentes.
Os países emergentes que estão praticando a elevação da taxa de juro para controle de pressões inflacionárias, como o Brasil, aumentam suas expectativas quanto à melhora de fluxos externos de capitais especulativos na busca de rentabilidade.
O Brasil pode não ser entre os emergentes o de melhor escolha a partir da política fiscal, inflação, crescimento econômico, etc., mas certamente proporciona interessante oportunidade de rentabilidade com arbitragens, pois a Selic foi elevada e tende a ganhar mais 0,75% até o final do ano.
Estes fatos provocaram apreciação do real, que também se fortaleceu adicionalmente com a declaração de Presidente do BC, Alexandre Tombini, que afirmou que não havia nada a anunciar quanto ao programa de intervenções em prática pelo BC, que gera liquidez mínima programada e vem se revelando eficaz na eliminação da especulação na formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
É importante lembrar que analistas e até membros do governo, frente à decisão do FED na semana passada de não interromper o programa de incentivo monetário, logo se arvoraram a prognosticar alterações no programa de liquidez mínima do BC, deixando de considerar que estamos perante uma perspectiva melhor de fluxo, mas não concreto ainda a ponto de resolver o problema de insuficiência de fluxo para fazer face ao déficit em transações correntes.
Tombini reconheceu a eficácia da estratégia que vem sendo usada no câmbio e, também, na política monetária, focando a contenção da inflação, que deve envolver nova alta da taxa Selic.
Parece-nos que ainda há tempo para que o país consiga atrair capitais, predominantemente especulativo, para fazer face ao financiamento do déficit em transações correntes, mas, face ao quadro de insuficiência de fluxo e a liquidez no mercado global, seria oportuno o governo alterar o prazo mínimo dos empréstimos estrangeiros sujeitos ao IOF de 6% para 90 dias.
É importante para o país que o próprio mercado consiga gerar sua liquidez, conseguindo, portanto, sua autossuficiência.
Nossa projeção perdura com o dólar flutuando entre R$ 2,20 a R$ 2,25 e finalizando o ano em R$ 2,30.