O mundo financeiro global opera criando expectativas mutantes em torno da decisão do FED americano em relação ao programa de estímulo monetário americano.
A alternância entre humores eufóricos e temerosos faz parte do jogo orquestrado pelo enorme conteúdo especulativo indutor das altas e baixas que se presencia, quase que cotidianamente, no comportamento dos preços dos ativos nos principais centros financeiros.
A rigor, não há fato novo, mas sim “requentados” sobre os quais se colocam e se retiram expectativas sobejamente conhecidas em suas perspectivas de causas e efeitos.
Bernanke, Presidente do FED, falará hoje no congresso americano, provavelmente sua última fala naquele recinto, visto que seu mandato vence em janeiro e, sabidamente, não deve continuar à frente do importantíssimo órgão gestor da política monetária americana.
Provavelmente será repetitivo em relação a sua mais recente fala a respeito da economia americana e sobre as colocações acerca da redução/término do programa de incentivo monetário americano.
Seria bastante sensato deixar esta decisão para o seu sucessor, até porque a economia americana ainda não está em condições para suportar a retirada dos incentivos e este é um dos temores dos congressistas americanos, que veem risco de retrocesso nos avanços obtidos em caso de redução do programa neste momento.
Aliás, a inflação americana ainda está muito abaixo dos desejados 2% aa e o emprego está em parâmetros ainda distantes quase 2 milhões dos níveis de 2007 e para ser satisfatório em 2013 precisa gerar quase 8 milhões de novas vagas, o que é um grande desafio que se mostra viável para algo como 3 a 5 anos, mantido o ritmo atual. O consumo em seu dado mais recente revelou crescimento de 0,4% ante projeção de 0,8% e se for retirado o item automóveis, a expansão foi zero. A produção industrial também não recomenda mudanças imediatas, cresceu 0,3% em junho, mas nos últimos 12 meses persistiu em queda.
Enfim, nada de grandioso pode ser esperado da nova fala de Ben Bernanke, porém, o mercado financeiro global deve persistir criando motivos para euforia e posteriormente para preocupações cautelares, ou vice-versa, pois precisa estimular o giro dos negócios.
No Brasil, que consideramos despertar baixíssima atratividade nos investidores externos em razão direta de sua conjuntura econômica e o elevado grau de incertezas predominante, busca-se atribuir relevância às decisões do FED para o comportamento dos ativos do mercado financeiro, mas em realidade, há pouca influência neste momento.
A continuidade da liquidez no mercado internacional não é sugestiva de que possamos ter melhora de fluxos de recursos externos para o país.
O “conjunto de fatores negativos no contexto Brasil do presente” inibe o fluxo de recursos e os números disponibilizados pelo próprio BC evidenciam que os resultados líquidos podem ser insuficientes para financiar o crescente déficit em transações correntes.
Movimentos especulativos poderão ocorrer e afetar o comportamento de preços, em especial do dólar, mas não necessariamente atrelados a fluxos ingressados no país, mas sim a partir de operações derivativas realizadas no mercado de balcão no exterior, com repercussões no comportamento dos preços na BM&FBovespa. Este é um cenário preocupante, pois não havendo fluxo cambial o BC poderá ter muito trabalho para evitar as repercussões em termos de volatilidade nos preços.
A carência de fluxo cambial líquido positivo compatível com a necessidade do país, poderá ampliar as pressões, que inicialmente advinham do mercado futuro em razão da procura por “hedge” (proteção), a se revelarem também no mercado à vista, potencializando a pressão de apreciação do preço da moeda americana.
Isto poderá exigir do BC mais do que leilões de “swaps cambiais” para mitigar a pressão de alta a partir do mercado futuro, sugerindo que possa ocorrer a necessidade de leilões de dólares a vista.
Salvo se os bancos passarem a operar com “posições vendidas” para suprir a liquidez, ancorando-as em linhas externas concedidas pelos bancos estrangeiros e/ou pelo próprio BC com operações de venda e compra conjugadas. Contudo, num cenário prospectivo pouco otimista quanto aos fluxos de recursos externos para o país pode ocorrer resistência por parte dos bancos.
É preciso considerar, como já salientamos anteriormente, que a realização de leilões de dólares a vista pelo BC pode, ao revelar a carência de ingressos suficientes de recursos no país, motivar ações especulativas sobre o real.
Por outro lado, há a convicção do mercado de que o BC não deseja que o preço da moeda americana ultrapasse o preço de R$ 2,30. Desta forma, quando o preço se aproxima deste piso imaginado, o volume de negócios no mercado de derivativos, em especial dólar futuro, cai muito e, então, podem surgir movimentos especulativos como o visto na segunda-feira passada, em que os “comprados” realizam ofertas de vendas e realizam lucros e se reposicionam para logo na sequência, como ocorreu ontem, entrarem “comprando” a preços baixos e recomporem as posições.
Este comportamento pode se intensificar criando grande volatilidade, aproveitando as nuances de humores em torno das repercussões das decisões do FED americano, que criam a imaginária hipótese de que os fluxos de recursos para o país poderiam melhorar acentuadamente.
Desta forma, é provável que se tenha movimentos especulativos em alternância e que maximizem lucros neste giro nos derivativos.
Assim, poderá ocorrer especulação a partir de operações realizadas no exterior, sem ingresso das divisas mas, provavelmente, atrelados a recursos oriundos de “carry trade” em yen, e especulação local considerando que há um ponto de alta que trava os negócios, que então determina realização de lucros e recomposição posterior das posições desfeitas a preços mais baixos.
Os fundamentos presentes na economia brasileira sugerem um viés consistente de alta do preço da moeda americana, contudo, poderá ocorrer grande volatilidade face as oportunidades especulativas presentes.