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Covid é incógnita, pacote fiscal positivo, e Janet Yellen desejaria dólar forte!

E de repente, as expectativas se alteram rapidamente na abertura dos mercados e o mundo global começou a especular, discretamente, percepção de que os Estados Unidos, sob o comando de Joe Biden, desenvolverá uma política expansionista e com esta sinalização surge a ter convicção de que Janet Yellen no comando da Secretaria do Tesouro americano focará o dólar forte, contrariando seus dogmas antecedentes.

Esta percepção alterou o ambiente predominante e recolocou o dólar em linha de valorização frente todas as moedas globais, incluindo as emergentes vinculadas a commodities, afora as pressões relevantes da retomada da pandemia do coronavírus.

Yellen, desde os tempos em que integrava o FED de San Francisco até posteriormente como Presidente do FED americano sempre foi defensora do dólar mais fragilizado, entendendo que estava muito desvalorizado, e que este fato retirava competitividade dos Estados Unidos no comércio no mercado internacional, onde já prevalecia forte concorrência com a China, e que sempre foi reivindicação recorrente do Presidente Trump ao Fed.

Contudo, a mudança de diretriz insinuada, que surpreendeu com poder de afetar os negócios de Wall Street e em cadeia do mundo todo, parece ter apoio de inúmeras autoridades na área nos Estados Unidos, que se manifestaram, e estaria em linha com a perspectiva de política expansionista a ser praticada por Joe Biden.

A reação desta especulação nos negócios ontem, segunda feira, foi imediata e a moeda americana abriu já em forte valorização frente às moedas da cesta e expressivamente frente as moedas emergentes, com ênfase maior as vinculadas a commodities.

Ao mesmo tempo, o Congresso americano sinalizou ter chegado a um acordo entre democratas e republicanos para estabelecimento de um novo pacote de ajuda fiscal, visando fortalecer a atividade econômica, que se constitui em fato extremamente positivo, sem perder de vista o forte aquecimento da retomada da pandemia do coronavírus, registrando crescente número de infecções e mortalidade, criando um ambiente dúbio.

A reação imediata dos negócios no mercado global ante o hipotético cenário novo, embora ainda incerto, foi alterar o comportamento para “defensivo” e nestas circunstâncias a busca pelo dólar como “segurança” o coloca em valorização global e conduz a demanda para os T-Bonds americanos em detrimento do mercado acionário.

No Brasil, aonde o real vinha usufruindo a depreciação do dólar para ajustar melhor seu preço absolutamente fora do ponto, em grande parte causada pelo estímulo da estratégia fracassada do governo do “câmbio alto e juro baixo”, a formação do preço da moeda americana repercutiu o seu comportamento de valorização no mercado internacional de imediato, visto que o real só tem repercutido os movimentos, sem dar causa efetiva das mutações de seu preço, então o preço do câmbio no nosso mercado de câmbio sofreu elevação no primeiro momento e, embora tenha arrefecido a intensidade, manteve a tendência no fechamento.

Além disto, até porque os fluxos cambiais positivos direcionados a B3 foram absorvidos por demanda reprimida de importações estocadas a pagar em sua totalidade, portanto sem grande impacto na formação do preço a partir do conceito oferta e demanda o que está evidente, através da análise dos fluxos cambiais do país, que a depreciação do preço da moeda americana decorria diretamente da sua fragilização, sem que o real desse causa.

Desta forma, a valorização do dólar no nosso mercado seguiu a linha do mercado internacional.

Resta observar qual vai ser a reação dos investidores estrangeiros face à este suposto cenário prospectivo, já que, no primeiro momento, a reação ao início da vacinação nos Estados Unidos foi de alta de juros dos T-Bonds, e existe agora está nova percepção, num momento em que ocorre em contraposição a convicção de aprovação de novo e grandioso pacote fiscal e há sinais preocupantes do reaquecimento da covid.

Afora isto, há que se considerar como altamente relevante e impactante o agravamento da pandemia do coronavírus no cenário global, com especial ênfase na Grã Bretanha, com o surgimento de nova variante do vírus e a interferência disto na mobilidade das populações europeias, além de reflexo comercial e abastecimento, que certamente contribui, também, para a piora dos humores de forma global.

Incertezas tendem a sugestionar posturas defensivas e isto pode afetar, além da taxa cambial no Brasil pela valorização do dólar no mercado internacional, e, o apetite dos investidores estrangeiros pela Bovespa, que passou a evidenciar movimento de realização forte e pode impactar revertendo as expectativas, que confirmaram a presumida baixa sustentabilidade.

O final de ano sugere alta complexidade de tendências possíveis, visto que afora os cenários externos em mutação, o Brasil por si só convive com forte retomada da pandemia do coronavírus, bastante agressiva mesmo, com o governo federal fazendo “vistas grossas”, muitos “se e talvez” na questão da vacinação fortemente politizada, ambiente político sucessório no Congresso bastante antagônico entre as partes envolvidas, incluindo propriamente o governo, crise fiscal sem viabilização de soluções imediatas, a despeito das renomadas promessas de reformas e assemelhados, e um enorme problema na área econômica e social que representará o término do auxílio emergencial, instituído pelo governo ao longo da pandemia, neste mês de dezembro, que tende a agregar os desalentados aos indicadores de desempregados.

Feliz 2021? O contexto Brasil no momento não sugere isto, embora haja muito esforço por valorizar pequenas conquistas e mitigar os enormes problemas que desafiam o país, e que tendem a se tornar doravante mais evidentes, até porque é seguro que haverá retrocesso no consumo, com concomitante aumento da pobreza.

No nosso entender, projeções para IPCA, PIB, SELIC, etc... que estão sendo realizadas para 2021 parecem sem lastro de fundamentação efetivamente assertiva dada a enormidade de incertezas e dúvidas presentes nas perspectivas reais para o país.

Um momento difícil, pois os ventos externos que ventavam a favor parecem perder intensidade, enquanto os ventos internos sugerem que poderão ficar piores do que já estavam.

Enfim, tudo sugere que, pelo menos no curto prazo, haverá sustentabilidade na apreciação do dólar frente ao real e perda de intensidade da B3, com forte movimento de realização.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO Corretora de Câmbio


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