Mercado financeiro e empresas lucram R$ 28,5 bilhões em agosto com intervenções do Banco Central no câmbio

No ano, lucro com essas operações já totaliza R$ 36 bilhões. Para analista, mercado financeiro 'exagera' na alta do dólar para lucrar com 'swaps cambiais'.

O mercado financeiro e as empresas que possuem os chamados contratos de "swaps cambiais" emitidos pelo Banco Central lucraram R$ 28,559 bilhões em agosto com essas operações, que são um tipo de intervenção do governo no câmbio. O levantamento foi divulgado pelo próprio Banco Central nesta quarta-feira (5).

No acumulado de 2018, mercado e empresas lucraram ainda mais com esses contratos: R$ 36,380 bilhões.

O lucro das empresas com os contratos de "swap cambial" representa, por outro lado, perda do Banco Central com essas operações. De forma geral, a autoridade monetária registra lucro com esses contratos quando o dólar cai e prejuízo quando a cotação da moeda sobe.

Os contratos de swaps cambiais equivalem a uma venda de dólares pelo BC no mercado futuro, que acabam por conter uma disparada maior da moeda norte-americana no mercado à vista.

Mesmo assim, o dólar fechou o mês de agosto com uma alta acima de 8%, cotado a R$ 4,0721. No acumulado do ano, teve valorização de 22,89%. O dólar turismo, que serve de referência para as compras nas casas de câmbio, porém, fechou a R$ 4,24 no mês de agosto.

 

'Bom funcionamento' dos mercados

Questionado pelo G1 nesta quarta-feira sobre o prejuízo com os contratos de "swap cambial", o Banco Central afirmou que essas operações visam "prover liquidez e garantir o bom funcionamento do mercado cambial e, portanto, do regime de câmbio flutuante".

"A intensidade e a frequência das intervenções dependerão da dinâmica e das disfuncionalidades observadas no mercado", ressaltou a assessoria do Banco Central.

A instituição informou ainda que, apesar de ter registrado prejuízo com esses contratos que representam passivos da instituição, apresenta lucro com a alta do dólar quando são colocados na conta os "ativos", ou seja, as reservas internacionais brasileiras, atualmente acima de US$ 370 bilhões.

No acumulado deste ano, o ganho líquido do Banco Central com a valorização das reservas internacionais brasileiras foi de R$ 253,83 bilhões. Para chegar a esses números, é considerada a rentabilidade (com a queda do dólar, as reservas em reais ficam menores), menos o custo de captação.

 

Tensões eleitorais e especulação

Analistas avaliam que as tensões eleitorais e o cenário internacional (aumento de juros em economias maduras, saída de investidores de países emergentes e guerra comercial entre Estados Unidos e seus parceiros) têm contribuído para aumentar as tensões e estimular uma alta do dólar no Brasil.

Porém, outros especialistas apontam que esse movimento estaria muito forte, representando uma especulação de instituições financeiras e de empresas para que o dólar suba e, deste modo, registrem lucro com os contratos de "swap cambial" emitidos pelo Banco Central.

"O mercado está exagerando [na cotação do dólar], empresas e bancos. Não se justifica estar com o dólar a esse preço", avaliou em entrevista ao G1 o economista da NGO corretora Sidnei Nehme.

O especialista destaca que o país possui reservas internacionais em patamar elevado e contas externas arrumadas para estar tão vulnerável às especulações cambiais. Na avaliação de Nehme, o dólar acima de R$ 3,80 representa "pura especulação".

"O que seria lógico é que o movimento [de tensão] acontecesse em cima da bolsa [de valores], e não sobre o câmbio. Economia fraca não sugere empresas com grande rentabilidade", enfatizou.

O economista da NGO ponderou que os contratos de "swap cambial" representam uma proteção do mercado e empresa, que têm dívida em dólar, contra uma alta da moeda. Nesse caso, podem fazer "hedge" e não ter perdas quando a moeda norte-americana sobe. Porém, Nehme afirma que muitos bancos e empresas estão com mais contratos do que necessitam para se proteger.

"Uma parcela dos swaps colocados excede a necessidade de proteção e foi utilizado como se fosse uma aplicação de renda variável e isso fomenta a puxada [na cotação do dólar]", explicou Nehme.

Por isso, avalia o economista, o próprio mercado pode estar estimulando uma alta da moeda norte-americana para lucrar com essas operações.

 

Efeitos da alta do dólar

A recente disparada da moeda norte-americana em relação ao real tem potencial para gerar pressões inflacionárias no Brasil. Isso porque os produtos, insumos e serviços importados ficam mais caros na medida em que o dólar se valoriza.

Analistas avaliam, porém, que em um cenário de baixo crescimento econômico, com desemprego ainda alto, o chamado repasse da alta do dólar para a inflação tende a ser menor.

A alta do dólar também favorece as exportações brasileiras, que, cotadas em moeda norte-americana, geram mais rentabilidade para os produtores nacionais. Além disso, as importações ficam mais caras.

Por outro lado, também a escalada do dólar também encarecem as viagens de brasileiros ao exterior. Isso porque as passagens e as despesas com hotéis, por exemplo, são cotadas em moeda estrangeira. O papel moeda também fica mais caro.

 

Contas públicas

O prejuízo do Banco Central com os contratos de "swaps cambiais" prejudica as contas públicas. Isso porque as perdas serão incorporadas às despesas do governo federal com juros da dívida pública, o que ajuda a aumentar o chamado resultado "nominal" – calculado após a contabilização das despesas com juros.

Segundo o BC, o déficit nominal das contas públicas somou R$ 471,584 bilhões, o equivalente 7% do Produto Interno Bruto (PIB), em 12 meses até julho deste ano. Esse número é acompanhado com atenção pelas agências de classificação de risco na determinação da nota de crédito dos países.

Os contratos de "swap", quando geram prejuízo, também ajudam a aumentar a dívida do setor público. No caso da dívida bruta, que não considera os ativos dos países como as reservas cambiais, o endividamento brasileiro somou R$ 5,186 trilhões em julho, ou 77% do PIB – patamar ainda elevado para padrões internacionais.

ngo na midia g1 portal globo Fonte: G1
Autor: Alexandro Martello
Link: g1.globo.com/.../mercado-e-empresas-lucram-r-285-bilhoes-em-agosto-com-intervencoes-do-banco-central-no-cambio
Data de publicação: 05/09/18

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