Dólar deve oscilar mais com incerteza em disputa eleitoral em 2018

As oscilações na cotação do dólar devem voltar a preocupar este ano. As incertezas políticas, a alta dos juros nos Estados Unidos, a queda das taxas aqui, dúvidas sobre a reforma da Previdência, a possibilidade de rebaixamento de nota de crédito do Brasil e, principalmente, a disputa eleitoral devem influenciar a cotação da divisa. As cerca de cem instituições financeiras ouvidas pela Banco Central esperam que o dólar termine o ano cotado a R$ 3,30. Especialistas, entretanto, acreditam que a barreira dos R$ 4 seja quebrada durante a disputa presidencial. A incerteza é tanta que se a moeda tiver o movimento contrário e terminar abaixo de R$ 3 não seria surpresa. O único consenso é de turbulência pela frente.

A certeza é que a cotação não deve refletir os fundamentos da economia — que estão melhores — mas o estresse do mercado financeiro com o cenário eleitoral. Algumas corretoras ouvidas pelo GLOBO já pensam em indicar o dólar como uma aplicação interessante em 2018. Enquanto isso, os técnicos do governo ficaram mais apreensivos. Um forte efeito sobre o dólar já faz parte dos cenários alternativos nos bastidores, principalmente se a reforma da Previdência não avançar:

— Acho que tanto os riscos eleitorais e fiscais vão aumentar os prêmios de risco e bater nos ativos, incluindo o dólar. Sem a perspectiva de que vai haver alguma reforma da Previdência, o buraco é imenso. O que nos salva é a perspectiva de reformas e, se isso deixar de existir, não será bonito — previu uma fonte da equipe econômica, que ainda projeta que a turbulência pode afetar a vida de quem planeja passar férias no exterior.

Cenário mais incerto

Um dos maiores nomes do mercado no assunto alerta que o cenário pode ser ainda pior que na campanha de 2002, quando a moeda americana disparava a cada avanço do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas. Naquela época, lembra Sidnei Nêhme, economista-chefe da corretora NGO, o Brasil conseguia poupar para abater juros da dívida e as contas da Previdência não estavam tão pressionadas como agora. Segundo ele, essa é a grande diferença.

— Não é só uma questão de Lula e Bolsonaro (Jair Bolsonaro, do PSC-RJ).

Ele argumenta que está claro que o governo não tem base de apoio. E isso é sinônimo de um ano difícil e estressado no qual as questões políticas devem se sobrepor às econômicas. Outro ponto que pode aumentar a incerteza é a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Nehme projeta muita turbulência na disputa dentro do próprio governo se isso ocorrer:

— Não vamos ter um ano tranquilo. Tem muita incerteza no horizonte. A economia está melhorando, mas pode não ser sustentável.

Para o economista da Icap Ítalo Abucater, 2018 deve repetir o ano da reeleição da presidente Dilma Rousseff: com câmbio que responde aos rumos indicados pelas pesquisas eleitorais.

— Os candidatos que sobraram são péssimos e Meirelles, que seria o preferido do mercado, não tem apoio dentro do próprio governo. O cenário político é horroroso — frisou o analista, que espera um ano de rali com o dólar e operadores da Bolsa estressados: — O cassino do mercado financeiro estará a todo vapor.

A visão é compartilhada pelo economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito. Ele lembra que a economia tem crescido com mais força do que o estimado anteriormente e que uma alta do dólar terá impacto nos preços. Atualmente, esse é o menor problema da equipe econômica, porque o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar o ano em 2,8%. A meta era de 4,5% com um limite mínimo de 3%. E o Banco Central, no seu relatório de inflação, espera que o IPCA fique abaixo da meta até 2020, pelo menos. No entanto, a volta do aumento de preços deve complicar ainda mais o cenário político num ano eleitoral.

— É eleição. Só isso já teria um aumento natural do câmbio, mas o cenário político conturbado deve ter um peso maior — disse Perfeito.

O economista acredita que o dólar vai subir a R$ 3,60:

— Ainda há fluxo para cá, mas não me surpreenderia se fosse para R$ 4 ou mais porque os juros nos Estados Unidos devem subir mais. Como eu acho que a variável de ajuste vão ser os juros de longo prazo, o diferencial deve continuar favorável pra cá (permitindo a entrada de dólares no país) — disse o economista ao lembrar que a perspectiva é de uma nova alta de juros no ano que vem também no Brasil.

Discursos menos radicais

Mais otimista que os colegas, a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, acha que a campanha não deve trazer tantos problemas como o previsto pelos demais analistas. Ela analisa caso a caso. Diz que o ex-presidente Lula já ensaia um discurso “paz e amor” e que o deputado Jair Bolsonaro tenta adotar tom liberal.

— O problema é que as pessoas acham que o Brasil é um país tão diferente que precisa de políticas criativas. E ignora o manual de políticas bem-sucedidas — resumiu a economista em um debate em Brasília.


ngo na midia oglobo Fonte: O Globo
Autor: Gabriela Valente
Link: economia/dolar-deve-oscilar-mais-com-incerteza-em-disputa-eleitoral-em-2018
Data de publicação: 02/01/2018

Mesa: (11) 3291-3260    |    Tel: (11) 3291-3266    |    Fax: (11) 3106-4920

Ouvidoria

0800 777 9504

ATENDIMENTO

de segunda a sexta-feira

das 09h00 às 18h00

ouvidoria@ngo.com.br

Acompanhe a NGO
ngo-icon b-facebook    ngo-icon c-twitter 

ngo-icon a-logo